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<i>Nós, seres humanos, sozinhos na Terra, somos poderosos o suficiente para criar mundos, e para depois destruí-los.</i>

Se eu pensava que David Attenborough nada teria a dizer para a história da arte e o urbanismo, foi desta que me enganei redondamente. O que prova duas coisas. Por um lado, que subvalorizamos os contributos interdisciplinares. E por outro, que as ciências naturais são absolutamente fundamentais para olhar o mundo, independentemente de acharmos que podemos compartimentar e hierarquizar o conhecimento. Talvez, em parte, se possa assim explicar porque é que, desde o momento em que me sentei e abri este livro, até ao momento em que o fechei e me levantei, passaram cerca de quatro horas. Em parte. Porque a realidade é que escutar Attenborough é um prazer que me acompanha desde que me lembro (são bem boas as memórias das manhãs de fim de semana assim partilhadas). A realidade é que não faz falta justificação para ouvir o que tem a dizer este homem/instituição do alto dos seus quase quase 100 anos. Sobretudo porque o nos tem a dizer é das coisas mais prementes neste momento:

<i>(...)o nosso planeta é pequeno, isolado e vulnerável. É o único lugar que temos, o único lugar onde existe vida, tanto quanto podemos dizer. É precioso de um modo único. As imagens enviadas da Apollo 8 haviam transformado a mentalidade da população mundial. O próprio Anders afirmou: Viemos tão longe para explorar a Lua, e a coisa mais importante é que descobrimos a Terra.</i>

Partindo de uma posição de humildade, em que a humanidade não ocupa mais do que um ínfimo ponto no espaço (tanto quanto sabemos) infinito, Attenborough inicia uma ronda pelas suas aprendizagens à laia de aviso sustentado na experiência de largos anos de contacto privilegiado com a natureza:

<i>Os seres humanos tinham-se afastado cada vez mais do resto da vida na Terra, vivendo de um modo diferente e sem paralelo. Eliminámos praticamente todos os nossos predadores. Quase todas as nossas doenças estão controladas. Desenvolvemos formas de produzir alimentos por encomenda e de viver com grande conforto. Ao contrário de todas as outras espécies da História da vida na Terra, vimo-nos livres da pressão da seleção natural evolutiva. O nosso corpo não mudou de forma significativa em 200 mil anos, mas o nosso comportamento e as nossas sociedades tornaram-se cada vez mais desligados do ambiente natural que nos rodeia. Já nada nos restringe. Nada nos faz parar. A não ser que nos paremos a nós mesmos, iremos continuar a consumir os recursos físicos da Terra até os esgotarmos a todos.</i>

Em <i>Uma vida no nosso planeta</i>, embora tantas vezes lhe fuja a pena para a beleza natural que tão bem sabe descrever, o objetivo, ainda que sempre dentro dos trâmites educativos, não se descola do ativismo:

<i>Não podemos continuar a abater florestas tropicais para sempre, e tudo o que não podemos fazer para sempre é, por definição, insustentável. Se fizermos coisas que são insustentáveis, os danos acumulam-se até um ponto em que todo o sistema acaba por entrar em colapso. Nenhum habitat, por maior que seja, se encontra seguro.</i>

E neste ativismo, sustentabilidade é a palavra de ordem. Quer se faça mais ou menos por ela, quer se ria a bandeiras despregadas ou se engula em seco perante as admoestações contra o consumo de recursos e a ameaça da insustentabilidade, não há como fazer ouvidos moucos às evidências:

<i>Registos e relatos anteriores à memória viva, no século XIX e no início do século XX, descrevem um oceano que não reconheceríamos. Fotografias antigas mostram pessoas enterradas em salmões até aos joelhos. Relatos da Nova Inglaterra falam de cardumes de peixes tão grandes e tão próximos da costa que os locais iam apanhá-los com facas de mesa. Na Escócia, os pescadores recolhiam uma linha de 400 anzóis e encontra vam linguados em quase todos. Os nossos não muito distantes antepassados pescavam simplesmente com anzóis e redes de algodão. Agora, dispondo de tecnologia que lhes cortaria a respiração, temos dificuldade em apanhar algo comestível.
[...]
O rio Mekong, no Sudeste Asiático, por exemplo, fornece um quarto de todos os peixes de água doce apanhados no mundo e dá a 60 milhões de pessoas uma proteína preciosa. Contudo, uma combinação de barragens, extração excessiva, poluição e sobrepesca conduziu a uma diminuição da captura, ano após ano, não só em volume, mas também em termos do tamanho dos peixes. Nos últimos anos, alguns pescadores tiveram de usar redes mosquiteiras para apanhar algo comestível.
[...]
Quando hoje revejo os meus primeiros filmes, percebo que, embora eu sentisse estar no meio da natureza selvagem, a passear por um mundo natural puro, isso era uma ilusão. Aquelas florestas, planicies e mares já estavam a esvaziar-se. Muitos dos animais maiores já eram raros. Uma referência em mudança distorceu a nossa perceção de toda a vida na Terra. Esquecemo-nos de que outrora existiam florestas temperadas que demoravam dias a atravessar, manadas de bisontes que demoravam quatro horas a passar e bandos de aves tão grandes e compactos que escureciam os céus. Essas coisas eram normais há apenas algumas gerações. Deixaram de ser. Nós habituámo-nos a um planeta empobrecido.</i>

Os cientistas são muito claros e Attenborough não se cansa de reforçar o seu esforço para comunicar o nível de perigo a que nos expomos:

<i>Durante algum tempo, os climatologistas haviam avisado de que o Planeta iria aquecer se continuássemos a queimar combustíveis fósseis, enviando mais dióxido de carbono e outros gases com efeito de estufa para a atmosfera. Esses gases eram conhecidos por reter a energia do Sol junto à superficie da Terra, aquecendo o Planeta num fenómeno chamado «efeito de estufa». Uma grande mudança no nivel de dióxido de carbono na atmosfera é uma característica de todas as cinco extinções em massa da História da terra.</i>

Para si, continuamos a rumar em direção à extinção por uma razão muito simples: alienação.

<i>Substituímos o selvagem pelo domesticado. Encaramos a Terra como o nosso planeta, governado pela Humanidade para a Humanidade. Sobra pouco para o resto do mundo vivo. O mundo verdadeiramente selvagem - o mundo não-humano - desapareceu. Nós devastámos a Terra.</i>

Focados nos chavões de crescimento, expansão e retorno económico, permitimo-nos alimentar um sistema que não é só desigual para uns e outros como injusto para todos:

<i>O cerne do problema é que, hoje, não há maneira de calcular o valor da natureza e dos serviços ambientais a nível mundial e local que proporciona. Cem hectares de floresta tropical intacta têm menos valor no papel do que uma plantação de óleo de palma. Assim, o abate da natureza é considerado proveitoso. O único modo prático de mudar tal situação é mudar o significado de valor.</i>

Os tempos da humilhação gloriosa de Al Gore já lá vão (pelo menos gosto de pensar que sim). Hoje já haverá mais espaço e consciência para acatar evidências científicas (embora, ao escrever isto, me ocorra de imediato que estamos a viver na era da desinformação e do "homem forte" que manipula as notícias como se tivéssemos entrado para a realidade alternativa de <i>1984</i>). De todas as formas, se ainda há alguém capaz de se fazer ouvir, esse alguém é Attenborough que tem o seu lado a experiência de um século, dois períodos geológicos, e uma porrada de quilómetros de mundo selvagem nas veias. Se não fazemos da sua obra um estandarte que chegue a todos - estou a pensar nos imensos clubes de leitura que ignoram literatura de divulgação, nas escolas que se furtam a este tipo de iniciativas por falta de financiamento e vontade, e até nas livrarias que normalmente não destacam o que não seja bestseller (embora Attenborough se possa gabar de uma margem de leitores bastante alargada) - se assim não for, estamos completamente dependentes de agendas políticas desligadas da realidade que não nos irão valer num futuro próximo - e, depois, já não valerá a pena nada.

<i>O Homo sapiens, o ser humano inteligente, tem agora de aprender com os seus erros e fazer jus ao seu nome. Nós, que estamos vivos hoje, temos a gigantesca tarefa de garantir que a nossa espécie o faz. Não podemos perder a esperança. Temos todas as ferramentas de que precisamos, os pensamentos e as ideias de milhares de milhões de mentes notáveis e as energias incomensuráveis da natureza para nos ajudarem no nosso trabalho. E temos mais uma coisa, uma capacidade, talvez única entre as criaturas vivas do Planeta: imaginar um futuro e trabalhar para alcançá-lo.</i>
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An absolutely heart-wrenching heart-warming story of the hope, the struggles of the future interspersed with the wonderful first hand experience of Sir David Attenborough.

depressing read for sure. LMAO I started this on my birthday. i listened to the audiobook of this and would put a chapter on every so often, hence why it’s taken me three months to read

that was a nice little dose of anxiety