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Parfum a Sentir by Gustave Flaubert

jpbaptista's review

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3.0

3 ½ *

O livro reúne dois contos de juventude de Flaubert, escritos quando este tinha entre 15 e 16 anos.
Se a temática é comum – a forma como a paixão excessiva e descontrolada corrompe a virtude e conduz à autodestruição –, o tratamento parte de polos diferentes: o ciúme, por um lado, e a paixão não correspondida, por outro. No primeiro conto (“Un parfum à sentir ou Les Baladins”) somos levados ao convívio com uma troupe de saltimbancos, em que Marguerite, gasta prematuramente pela usura da vida que leva e pelo sofrimento, se vê preterida pela garridice e juventude de Isabellada, que o seu marido toma como amante à vista de todo o grupo. No segundo (“Passion et vertu”), o cenário muda para a alta sociedade, em que Mazza, dama virtuosa, casada e mãe de filhos, se envolve amorosamente com um Don Juan de pacotilha cujo interesse amoroso rapidamente se desvanece, ao mesmo tempo que nela se desenvolve uma paixão devoradora, que a leva a tudo sacrificar.
Em ambos os casos, Flaubert traça o itinerário de degradação moral que ambas as mulheres acabam por trilhar, consumidas por uma paixão que lhes coarcta a liberdade, que lhes retira a dignidade e que faz ruir todos os alicerces em que as suas vidas se esteiam. A par disso, uma sociedade cruel e indiferente e uma “natureza que se fez má mãe” compõem o quadro em que os desenlaces se dão.
As temáticas e a sua forma de tratamento estão longe de ser originais, embora, de certo modo, neles se possam ver as sementes da obra de maturidade de Flaubert.
Para mim, os pontos de interesse destas leituras são antes outros.
Em primeiro lugar, a desenvoltura estilística relevada por um adolescente de 15/16 anos é verdadeiramente impressionante, pois Flaubert escreve com um virtuosismo consumado, ainda que por vezes grandiloquente em excesso e abusando de alguns efeitos dramáticos. Em segundo lugar, a procura de uma ambiguidade moral para os contos e de uma denúncia social implícita, ainda que não totalmente conseguidas em virtude de alguma ingenuidade que não o deixa libertar-se da tipificação dos caracteres. Sem embargo, é curioso que Flaubert tenha qualificado ambas as obras como contos morais e tenha mesmo dado ao primeiro o subtítulo de “Conte philosophique, moral, immoral (ad libitum)”, escrevendo, quer na introdução, quer na conclusiva “moralité”, que nestas poucas páginas há uma mensagem, há um sentido amargo e triste, mas que cabe a nós, leitores, encontrá-lo.
Em suma, uma leitura interessante, que nos mostra um grande escritor nos alvores da juventude, mas em que a centelha do génio se deixa já adivinhar.

marithza_m's review against another edition

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medium-paced

4.0

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