Reviews tagging 'Child death'

Musashi by Eiji Yoshikawa

1 review

ggcd1981's review against another edition

Go to review page

adventurous informative reflective slow-paced
  • Plot- or character-driven? A mix
  • Strong character development? Yes
  • Loveable characters? Yes
  • Diverse cast of characters? No
  • Flaws of characters a main focus? It's complicated

4.25

Essa é a minha segunda vez lendo Musashi, quer dizer, eu tinha uma edição em português que dividiu a obra em dois volumes, li o primeiro, mas não o segundo. Assim essa é a minha segunda tentativa com Musashi, porém a primeira vez lendo a obra completa. Ao ler essa versão em texto único, em inglês, ainda penso na obra como se fosse dividida em duas partes (apesar desta na verdade ser estruturada e dividida em “livros” menores que também foram publicados separadamente). Na minha opinião o primeiro volume foi onde a história brilhou, pois esta parecia coesa, os personagens eram interessantes e pareciam ter agência e relevância.
Nessa primeira parte do livro acompanhamos a vida de Takezo que após sobreviver a batalha de Sekigahara com seu amigo Matahachi embarca em uma jornada que o transformará em um dos maiores samurais do Japão, sob o nome de Miyamoto Musashi. Ao longo da narrativa Musashi conhece várias pessoas que influenciam sua vida, mas o elenco inicial de personagens que atravessa toda a obra são (além do próprio Musashi): Matahachi, seu melhor amigo que demonstra também inveja de Takezo; Otsu, órfã abandonada pelo ex-noivo Matahachi, acaba por se apaixonar por Musashi e devotar sua vida a busca-lo apesar deste a evitar pois os sentimentos que tem pela garota são prejudiciais ao seu objetivo de seguir o “caminho da espada”; Osugi, mãe de Matahachi que jurou vingança a Musashi e Otsu pois, apesar de seu filho ter abandonado a garota, ela enxergava Otsu e Musashi como responsáveis por desonrar sua família; Takuan Soho, monge responsável por capturar o fugitivo Takezo e condena-lo a anos na “cela da luz” sendo catalizador da mudança do rapaz e rebatizando-o de Miyamoto Musashi após sua pena; finalmente Sasaki Kojiro, rival de Musashi por grande parte de sua vida e último obstáculo a ser vencido ao fim do livro. Existem muitos outros personagens recorrentes na obra como Jotaro, Iori, Gonnosuke, Oko, Akemi, Toji, entre outros que atravessam a vida de Musashi e a influenciam de alguma maneira. Na primeira parte do livro os encontros de Musashi com os personagens pareciam ter propósito e contribuíam de alguma forma com a narrativa. Era como se Musashi tivesse algo a aprender de cada pessoa que conhecia e Eiji Yoshikawa parecia ter um proposito em mente para cada personagem. Pontos altos da primeira parte do livro são os vários confrontos com os líderes da escola Yoshioka (conhecida e respeitada pelo estilo de luta de espada Yoshioka) culminando na maior batalha do livro no monte Hiei em Ichijoji. Musashi versus todos os alunos restantes da escola Yoshioka. Nesse confronto a primeira vítima de Musashi foi o último representante oficial da família, Yoshioka Genjiro, um menino de 13 anos (ato o qual vem a perturbar Musashi após a luta). Com Genjiro morto os alunos restantes entraram em fúria e atacaram Musashi simultaneamente o que causou este a usar pela primeira vez seu estilo de duas espadas. Estilo qual veio a evoluir mais tarde. Essa luta foi o ponto alto do livro, empolgante e sangrenta uma real batalha por sobrevivência. A partir daí entrei na segunda metade do livro e, infelizmente, a qualidade decaiu. Os personagens, acontecimentos paralelos e encontros na vida de Musashi, os quais na primeira metade pareciam ter proposito e coesão, parecem, na segunda metade, aleatórios, dispersos, sem proposito ou influência na narrativa. Trechos inteiros em que segui personagens secundários e ao final percebi que essas passagens tiveram pouquíssimo ou nenhum impacto na obra. Mesmo considerando que o autor escreveu com base em pessoas e acontecimentos reais na história do Japão, ainda há bastante ficção e romantização no livro. Diante disso acredito ser razoável esperar uma narrativa mais coerente. É claro que se deve considerar que inicialmente esta obra foi publicada periodicamente como folhetins, o que na verdade explica, mas não justifica a dispersão do livro. Um acontecimento em particular do livro que parece aleatório, me fez rir e me ofendeu ao mesmo tempo foi Matahachi sequestrando Otsu, que estava montada numa vaca. O mero pensamento de que uma mulher seria incapaz ao ponto de não conseguir pular de uma vaca em movimento para salvar a si própria é ofensivo para mim. Contudo, o cenário pintado pelo autor, Matahachi correndo enquanto puxa uma vaca com Otsu montada em cima, inerte e aflita, foi absolutamente ridículo e hilário. Outro acontecimento que veio do nada e se mostrou irrelevante foi a revelação que Iori e Otsu eram irmãos. Essa informação foi dada, porém em nada influenciou a narrativa principal, e se não me engano, os dois personagens sequer chegam a trocar palavras. Eu definiria a segunda metade de Musashi como um Slice of life em que acompanhamos eventos na vida de Musashi e outros personagens. As vezes esses eventos e pessoas estão conectados, as vezes não. Isso não torna o livro ruim, mas não era o que eu esperava. Um ponto negativo porem é que alguns personagens simplesmente mudam de personalidade de forma abrupta e sem justificativa. Por exemplo Osugi, que passa da sede de sangue e vingança por Musashi e Otsu para se tornar totalmente compreensiva no espaço de um dia (quando deu uma surra em Otsu como sempre quis e aparentemente isso foi o suficiente para gerar mudança e arrependimento. Questionável). A conclusão do livro é dedicada ao primeiro e único duelo entre Musashi e Kojiro, rivais de muitos anos. Esse duelo se tornou um evento ao qual grande parte do Japão aguardou ansioso, com o público dividido entre o ronin e o samurai. A luta foi rápida, considerando a expectativa criada ao longo do livro. Contudo isso só deixou o confronto mais realista. Kojiro morreu com um sorriso no rosto se acreditando vitorioso pois, após confundir cortar a bandana de Musashi com cortar sua cabeça, recebeu o golpe da espada de madeira de Musashi em seu crânio (a espada era na verdade o remo quebrado do barco o qual Musashi esculpiu na viagem para a ilha do confronto).
Um ponto que vale salientar é que o livro, tendo sido escrito em 1935, contém a misoginia esperada da época. Mesmo assim ainda fui capaz de desfrutar da narrativa e da descrição das belezas do Japão e seu interessantíssimo cenário histórico e cultural no século XVII. Uma ressalva é que gostaria que Yoshikawa tivesse se aprofundado mais na filosofia e estilo de espada que Musashi desenvolveu ao longo de sua vida, ambos são apresentados apenas superficialmente, mas compreendo que esse não era o propósito do livro. Uma observação sobre o audiobook é que, apesar do narrador ser muito bom, em determinado momento ele tem que entoar um longo sutra, ele parecia não ter muito talento musical então essa parte do audiobook foi meio sofrida. Em geral o livro foi muito bom e me sinto realizada de, após cerca de 20 anos de lido o primeiro volume, finalmente li a obra novamente e dessa vez inteira. A primeira metade seria 5 estrelas, porém a segunda teve mais fraquezas do meu ponto de vista, assim acredito que 4.25 estrelas é uma nota justa. 

Expand filter menu Content Warnings
More...