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The Summer Without Men by Siri Hustvedt

katya_m's review against another edition

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Há pessoas que pura e simplesmente se apoderam do espaço de que precisam, expulsando os intrusos para tomar posse de um lugar. O Boris era capaz de fazer isto sem mexer um músculo. Bastava-lhe ficar ali, «calado como um rato». Eu era um rato barulhento, desses que arranham as paredes e armam escândalo, mas por algum motivo não fazia diferença. A magia da autoridade, do dinheiro, do pénis.

Há momentos em que as leituras vêm ter conosco e como que se complementam entre si. Eu diria que não é muito frequente, mas acontece. E quando acontece, o mundo parece fazer mais sentido.
Desta vez, foi Siri Hustvedt quem veio em meu socorro e conseguiu unir num núcleo coeso os retratos de género a que as minhas últimas leituras têm vindo a apelar.

Roçando as margens da tragicomédia, Verão sem Homens é uma obra introspetiva, filosófica, prenhe de vida e referências cultas, com uma narradora fascinante e perfeitamente consciente de ser apenas mais uma personagem numa narrativa que ela própria constrói:

Despidos de intimidade e vistos de uma distância considerável, todos nós somos personagens cómicas, bufões ridículos que andamos aos tropeções pela vida, fazendo disparates atrás de disparates à medida que avançamos, mas quando nos aproximamos, o ridículo depressa se funde no sórdido ou no trágico ou no meramente triste.

Essa consciência, que lhe permite uma aproximação única ao leitor, empresta-lhe uma dimensão mais humana e transforma um enredo que tinha tudo para ser apenas mais uma comédia romântica a roçar as margens da chamada chick lit, numa longa reflexão sobre a vida:

É impossível adivinhar uma história enquanto estamos a vivê-la: é informe; uma procissão incoerente de palavras e coisas, e sejamos francos: nunca recuperamos o que já foi. A maior parte desaparece.

... o tempo:

O tempo não está fora de nós, está dentro. Só nós vivemos com passado, presente e futuro, e em todo o caso, o presente é demasiado breve para ser experimentado; é retido, mais tarde, e então ou é codificado ou desaparece na amnésia. A consciência é o produto da dilação.

... identidade e alteralidade:

Devemos todos permitir-nos, de vez em quando, a fantasia da projeção, a possibilidade de nos vestirmos com os imaginários vestidos de noite e as casacas do que nunca foi e nunca será. É o que dá algum brilho às nossas vidas baças, e por vezes podemos escolher um sonho em vez de outro, e na escolha encontrar uma trégua da tristeza quotidiana. Ao fim ao cabo, nunca conseguiremos, nenhum de nós conseguirá, deslindar o emaranhado de ficções que constitui essa coisa periclitante a que chamamos um eu.

... sanidade e loucura:

A loucura é um estado de profunda autoabsorção. É necessário um esforço extremo só para não perdermos o rasto ao nosso próprio eu, e a viragem para a cura acontece no momento em que permitimos a entrada a um pedaço do mundo exterior, quando uma pessoa ou uma coisa passam pelo portão.

... e a condição de ser Mulher:

Há uma tristeza anelante quando a fertilidade acaba, uma saudade, não dos dias da hemorragia, mas uma saudade da repetição em si mesma, dos regulares ritmos mensais, da invisível atração da própria lua, a que em tempos pertencemos: Diana, Ishtar, Mardoll, Ártemis, Luna, Albion, Galateia - crescer e encolher - donzela, mãe, velha.

Esta última temática, sobretudo, sendo explorada por uma personagem com o dom da ubiquidade, acaba por ganhar traços de análise social e, porque assente numa visão embora não imparcial, analítica (lá está), se coloca ao nível do comentário erudito tornando a narradora uma figura de autoridade para lá de interveniente na ação:

Começamos todos iguais no útero das nossas mães. Nós, todos nós, quando flutuamos no mar amniótico do nosso primeiro olvido, temos gónadas. Se o cromossoma Y não interviesse nas gónadas de alguns de nós para fazer testículos, seríamos todos mulheres. Na biologia, a história do Génesis é invertida: Adão torna-se Adão a partir de Eva, não o contrário. Os homens são as costelas metafóricas das mulheres, não as mulheres as dos homens.(...)O certo é que, in utero, a história da diferenciação sexual é frágil. As coisas podem baralhar-se, e muitas vezes baralham-se mesmo.

[...]


A teoria do pensar-mirra-os-teus-ovários teve uma vida longa e robusta.

(...)
Não que não haja diferenças entre homens e mulheres; é quanta diferença essas diferenças fazem, e como escolhemos enquadrá-las. Todas as épocas tiveram a sua ciência da diferença e da igualdade, a sua biologia, a sua ideologia, e a sua biologia ideológica(...).Temos vários instrumentos de escuridão contemporâneos à nossa escolha, todos redutores, todos fáceis. Vamos explicá-lo através da muito especial ainda que duvidosa alteridade do cérebro feminino.


O crescimento da narradora Mia todavia, é um fulcro essencial para acompanhar a progressão da narrativa. À sua luz, as margens do romance esbatem-se, as linhas que separam realidade e ficção dissipam-se. E, porque neste livro, a liberdade, em estilo e forma, que a autora toma para si (e para a narradora) é tamanha, a fazer as vezes de longos parágrafos, o texto vai sendo pontuado de figuras que, acompanhando a evolução de Mia e a progressão da história, representam a libertação do aprisionamento psicológico/emocional/físico, e o derrube de paredes invisíveis com o qual nos poderemos, de uma ou outra forma, identificar.

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Acompanhar a sua jornada de crescimento e superação é uma espécie de privilégio, uma jornada na qual o leitor - se tudo correr bem - se revê e da qual retira prazer:

Gentil Pessoa, (...)se ainda está comigo agora, na página, quero dizer, se chegou até este parágrafo, se não desistiu e não me atirou a mim, a Mia, para o outro lado da sala, ou mesmo se o fez e então se pôs a pensar que talvez alguma coisa acontecesse em breve e me foi buscar outra vez e continua a ler, então quero estender os braços para si e segurar-lhe a cara com ambas as mãos e cobri-la de beijos, beijos nas suas faces e queixo e em toda a testa e na cana do seu nariz (seja qual for o formato), porque sou toda sua, toda sua.
Só queria que soubesse.

lusorrentino's review

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emotional funny hopeful inspiring lighthearted reflective sad fast-paced
  • Plot- or character-driven? Character
  • Strong character development? It's complicated
  • Loveable characters? Yes
  • Diverse cast of characters? Yes
  • Flaws of characters a main focus? Yes

4.0

motionocean's review

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Den ble for kaotisk for meg, hit og dit, med dikt og brev og fortid og nåtid, og jeg skjønner ikke helt hvor den vil. 

nina_wintermeyer's review against another edition

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adventurous challenging emotional reflective fast-paced
  • Plot- or character-driven? Character
  • Strong character development? Yes
  • Loveable characters? Yes
  • Diverse cast of characters? Yes
  • Flaws of characters a main focus? No

3.75

femermel's review against another edition

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challenging inspiring reflective slow-paced
  • Plot- or character-driven? Character
  • Strong character development? Yes
  • Loveable characters? It's complicated
  • Diverse cast of characters? It's complicated
  • Flaws of characters a main focus? Yes

4.25

mpaulars's review against another edition

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informative reflective slow-paced
  • Plot- or character-driven? Character
  • Strong character development? No
  • Loveable characters? No
  • Diverse cast of characters? No
  • Flaws of characters a main focus? Yes

2.0

hdissen's review

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  • Plot- or character-driven? Character
  • Loveable characters? Yes

4.0

there were parts of this book i could  not understand, but i loved it nonetheless.  poetic and lyrical, it feels like you’re having a stroll down memory lane with your mom and grandmother over a cup of coffee.  

icequeen37's review against another edition

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3.0

I couldn't bare to finish this book. The theme is overdone to death and it isn't portrayed with originality, so I stopped. However, I enjoyed the
language and will definitely read other works by the authoress, as I feel there is more to her than this novel.

lamorcom's review against another edition

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3.0

3.5 This would have been four stars, but as a lover of pared down writing, this was a little flowery for me. I enjoyed reading about an almost solely female cast however, and all generations were authentically represented. I enjoy Hustvedt’s writing about visual art too, especially as the descriptions don’t come across as pretentiously (to me) as might be expected from some of the wordplay within the writing.