Reviews

(3 estrelas e meia, really)

Ok, admito que apreciei menos a leitura de Titus Andronicus do que a de "Rei Lear", mas a culpa não é da peça. A história, em si, é óptima e terrivelmente forte, mas o texto, meu Deus, é Shakespear no seu mais duro, cru e, por vezes difícil de engolir (no pun intended, for those who know the play). É lindissimo, mas estupidamente violento. No final da peça assistimos a nada menos que 14 mortes, algumas delas absurdamente gráficas, dignas de um gore film. Sinceramente penso que nenhum tipo de “cidio” foi deixado fora e, pelo meio, temos ainda outros actos bonitos como: violação, mutilação, auto-mutilação e, yep, canibalismo. Se quiserem uma ideia do ambiente da coisa pensem em toda a violência do “A Song of Ice and Fire” condensada em 5 actos. Yep, that's basically it.

Admito que até não teria muito problema com isso (afinal sou um gajo bastante liberal), não fosse o facto de não ter encontrado uma única personagem por quem torcer. Titus, o protagonista, é digno de pena, sim, mas é também totalmente responsável por tudo o que se segue e por tudo o que lhe cai em cima. Não é difícil imaginar que, se ele tivesse sido clemente com o filho de Tamora no primeiro acto, talvez nada de particularmente horrível tivesse acontecido depois e a peça fosse, de facto, muito mais curta e aborrecida. Mas Tamora, por seu lado, nunca ouviu falar de “castigo proporcional ao crime” e, como tal, passa bastante das marcas nas suas reacções, sendo inconfundivelmente uma "vilã" por quem é impossível sentir compaixão. Saturnino, o imperador, marido de Tamora, é um burro, ingrato, cego e cheio de si. Os filhos de Tamora (os que não foram mortos, estripados e queimados na primeira cena, that is) são animais que merecem o bonito fim que tiveram. Aarão, o amante de Tamora, ao menos era divertido de se ler, mas não tinha uma única qualidade redentora, excepto, talvez, a dedicação ao seu filho, e mesmo isso de uma forma um tanto…peculiar…

De facto, a única pessoa decente na história era a pobre Lavinia… infelizmente, como lhe cortaram as mãos e a língua depois de a violarem logo no segundo acto (yep, that was not a very good day for her) a ausência de linhas dela no texto é longa e pesarosa.

E aqui levanto a hipótese de, talvez, poder apreciar muito mais “ver” Titus Andronicus do que “ler” Titus Andronicos, a presença de Lavinia é constante durante a peça, ela apenas não pode falar, e, talvez nas mãos (again, no pun intended) de uma boa actriz ela consiga redimir, um pouco, todo o negrume e maldade que rodeia absolutamente tudo e todos. Admito que, visualmente, Titus Andrónicus deve ser algo impressionante, de facto ainda estou a tentar imaginar como é que conseguiriam mostrar todas aquelas mutilações em palco na época Isabelina... os efeitos especiais deveriam ser, no mínimo, interessantes e valer metade do preço do bilhete…