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I hated it, but it was good. And I’m such a sucker for a hard hitting ending

Clarice fala sobre o estranhamento. O estranhamento que nos arrebata enquanto humanos face a um mundo pré-humano. É um livro que fracassa logo à priori. É uma utopia da desconstrução. Mas como desconstruir o invólucro humano usando a linguagem? Como chegar ao neutro das coisas enquanto humanos? Não é, também, um livro ingénuo. G.H sabe da impossibilidade de ir de encontro ao neutro. Mas nada a impede de se aproximar, de sentir a sua inexpressão. Clarice quer ir tão ao âmago das coisas que é uma escritora que usa a linguagem para falar sobre o silêncio. “A realidade antecede a voz que a procura, mas como a terra antecede a árvore, mas como o mundo antecede o homem, mas como o mar antecede a visão do mar, a vida antecede o amor, a matéria do corpo antecede o corpo, e por sua vez a linguagem um dia terá antecedido a posse do silêncio”.

Clarice disse que para entender este díficil livro, não é necessária a erudição e a inteligência. É necessário o sentimento, o deixarmo-nos levar pelas palavras. Lê-lo em voz alta é a boleia necessária. A linguagem é poética e infernal. E tomá-la na boca, apreciá-la, nos dá a emoção divina. Como estar nos píncaros de uma montanha observando os séculos da humanidade.

Clarice começa com uma nota aos leitores que nos precavê sobre um caminho árduo, que iremos juntos com G.H: "Este livro é como um livro qualquer. Mas ficaria contente se fosse lido apenas por pessoas de alma já formada. Aquelas que sabem que a aproximação, do que quer que seja, se faz gradualmente e penosamente - atravessando inclusive o oposto daquilo de que se vai aproximar", "A mim, por exemplo, o personagem G.H. foi dando pouco a pouco uma alegria difícil; mas chama-se alegria.”

O romance começa com um pedido de ajuda. Para nós, leitores. G.H. necessita de contar o que lhe havia acontecido, e precisa de uma mão para que enverede nos acontecimentos. G.H. perdeu qualquer coisa: “Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável.” “A ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, sem sequer precisar me procurar.” Havia perdido o invólucro humano.

G.H. entra nesse processo de desconstrução ao entrar no quarto que havia sido da empregada. Nesse quarto, onde esperara encontrar um quarto contíguo à casa, encontrara um minarete. Um quarto estrangeiro onde habitavam três desenhos na parede, a presença de Janair e a barata. E é através deste desconforto físico que é feita a despersonalidade de G.H. “A primeira ligação já se tinha involuntariamente partido, e eu me despregava da lei, mesmo intuindo que iria entrar no inferno da matéria viva”.
“Era isso - era isso então. É que eu olhara a barata viva e nela descobria a identidade de minha vida mais profunda. Em derrocada difícil, abriam-se dentro de mim passagens duras e estreitas.”
“Estou de novo indo para a mais primária vida divina, estou indo para um inferno de vida crua. Não me deixes ver porque estou perto de ver o núcleo da vida - e, através da barata que mesmo agora revejo, através dessa amostra de calmo horror vivo, tenho medo de que nesse núcleo eu não saiba mais o que é a esperança.”

O resto deixo como motivação para lerem este maravilhoso livro. Para concluir, quero falar de três naturezas de fome que Roberto Côrrea dos Santos definiu para falar sobre este livro. 1. Menos do que fome. 2. Fome. 3. Fome mais. Onde o 1 como um campo social e da cultura. Onde o 2 como um campo orgânico e o 3 é uma alargada espécie de fome onde vai nortear toda a paixão, que entra numa ordem de poder, que acaba sendo um exercício brutal de você conseguir chegar a uma fome inumana (massa branca da barata). A Clarice quer que saiamos do campo da fome menos e da fome, onde o nojo instala-se na fome mais como uma condição de força. Como exemplo da fome mais, Clarice diz: “Sofremos por ter tão pouca fome, embora nossa pequena fome já dê para sentirmos uma profunda falta do prazer que teríamos se fôssemos de fome maior”.

Deixo algumas citações do final do livro: “ Enfim, enfim quebrara-se realmente o meu invólucro, e sem limite eu era. Por não ser, eu era.” “Tudo estará em mim, se eu não for; pois «eu» é apenas um dos espasmos instantâneos do mundo.”
“ O mundo independia de mim - esta era a confiança a que tinha chegado: o mundo independia de mim, e não estou entendendo o que estou dizendo, nunca! nunca mais compreenderei o que disser. Pois como poderia eu dizer sem que a palavra mentisse por mim? como poderei dizer senão timidamente assim: a vida se me é. A vida se me é e eu não entendo o que digo. E então adoro.”

Life is just for me, and I don't understand what I'm saying.
challenging informative mysterious slow-paced

I don't usually write reviews but this book made me feel so inept for not having a formal education on philosophy. If somebody is teaching a class on this book, I have to sign up for it. I do not know how to rate it.
challenging mysterious slow-paced
Plot or Character Driven: Character
challenging dark emotional mysterious reflective slow-paced
Plot or Character Driven: Character
Strong character development: Complicated
Loveable characters: No
Diverse cast of characters: No
Flaws of characters a main focus: Yes

Third time reading it, loving it even more <3
challenging emotional reflective tense fast-paced
Plot or Character Driven: Character
Strong character development: Yes
Loveable characters: Yes
Diverse cast of characters: No
Flaws of characters a main focus: Yes

Gonna think about this book until the day I get dementia.
challenging emotional reflective fast-paced
Plot or Character Driven: Character
Strong character development: Yes
challenging reflective slow-paced
Plot or Character Driven: Character
Strong character development: Complicated
Loveable characters: Complicated
Diverse cast of characters: No
Flaws of characters a main focus: Yes

Life was taking its vengeance on me, and that vengeance consisted merely in coming back, nothing more. Every case of madness involves something coming back.”

A woman sees a cockroach and spends 189 pages crashing out over it - absolutely no notes