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Deniz Feneri

Virginia Woolf

3.79 AVERAGE

challenging emotional reflective slow-paced
Plot or Character Driven: Character
Strong character development: Yes
Loveable characters: Yes
Diverse cast of characters: Yes
Flaws of characters a main focus: Yes
challenging emotional reflective sad slow-paced
Plot or Character Driven: Character
Diverse cast of characters: No
challenging emotional reflective slow-paced
Plot or Character Driven: Character
Strong character development: Yes
Loveable characters: Yes
Diverse cast of characters: No
Flaws of characters a main focus: Yes
emotional reflective slow-paced
Plot or Character Driven: Character
Strong character development: No
Loveable characters: N/A
Diverse cast of characters: No
Flaws of characters a main focus: Yes

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mysterious sad slow-paced

4.5 stars—It took me couple chapters to get into her unique writing style. Once I did, I ended up reading this bit by bit before going to bed each night which I found to be a really nice way to engage with it! Such beautiful prose and deep exploration of the characters’ psyches. Very different than anything else I’ve read.
challenging dark emotional sad tense medium-paced
Plot or Character Driven: Character
Strong character development: Yes
Loveable characters: Yes
Diverse cast of characters: No
Flaws of characters a main focus: No

This was a whole lot more accessible than the waves and moved me to a certain extent. However if I come back to it when I’m a little older I think it’ll move me more. The writing was packed and beautiful and the characters were incredible vivid. I really felt it when Lily started screaming “Mrs Ramsay!” into nothing, this mixture of grief and anger is so raw in this novel. Beautiful.

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challenging dark medium-paced
Plot or Character Driven: A mix
Strong character development: Complicated
Loveable characters: Complicated
Diverse cast of characters: No
Flaws of characters a main focus: Yes
challenging emotional reflective medium-paced
Plot or Character Driven: Character
Strong character development: Complicated
Loveable characters: Complicated
Diverse cast of characters: No
Flaws of characters a main focus: Yes

Nunca tinha lido nada desse tipo. Achei maravilhoso. Quero ler mais da Virginia Woolf. Conta basicamente a história de uma casa de férias de uma família (com um fundo autobiográfico muito forte) na Escócia.

O que mais marcou pra mim foi como somos seres contraditórios e conflitantes - dentro de nós mesmos, nas percepções que temos e geramos nos outros e também nas nossas relações reais com eles.

Além disso, o livro reflete incansavelmente sobre tirania, casamento, sobre solidão, sobre as relações familiares e sociais e suas relações de dominação, sobre o papel que recai sobre a mulher, sobre casamento, sobre amor, raiva, sobre morte e mais uma gama de tudo que compõe o ser humano.

Isso é atingido através da narrativa do fluxo de pensamento, em que vamos trocando de personagem e acompanhando seus pensamentos. Não acontece de fato quase nada no livro inteiro - são retratos de momentos específicos, na primeira e última parte, através do pensamento dos personagens. Na segunda parte (Time Passes), esse retrato do tempo passando, sem nenhum personagem “importante” na casa é feita através da reflexão do narrador - sobre o mundo, a mudança, a guerra… Gostei muito do trecho em que fala sobre as pessoas que poderiam ir para a praia buscando a reflexão e conexão com a natureza. A guerra, com seus navios de metal, impediria isso, tiraria a “completude” do momento.

Na primeira parte (The Window), na casa, vemos Lily pintando Mrs. Ramsay na janela com James pequeno, que quer ir ao farol no dia seguinte. Mr. Ramsay tem um ou outro acesso de declamações de poemas e diz que não vai dar para ir ao farol. Mr. Tansley concorda. Mr. Bankes está com Lily e vê seu quadro, aceitando que aquela abstração pode ser interessante. Paul, Minta, Nancy e Andrew estão na praia. Paul pede Minta em casamento devido à sugestão de Mrs. Ramsay, grande defensora e incentivadora de casamentos. Essa cena toda se reúne no jantar, onde as relações e pensamentos de todos os personagens ficam mais claros - e suas contradições também. O que é fingimento e o que é real? O mais marcante é o ódio de Mr. Tansley aos outros, mais ricos.

Depois (na segunda parte, Time Passes), o tempo passa. Vemos a história da casa decaindo sem que ninguém vá para lá (só a empregada Mrs. McNab fica lá, incapaz de cuidar da casa sozinha). Em meio aos pensamentos do narrador, da passagem da vida, da mudança, da decadência, sabemos o que aconteceu com cada personagem - Mrs. Ramsay, Prue e Andrew morreram, o último na guerra. Mas os que restam decidem voltar e as funcionárias passam a arrumar tudo. A casa vai voltando ao seu ar antigo.

E por fim, a volta para a casa, na terceira parte (The Lighthouse). Lily volta a pintar o quadro, que nunca terminara. Começa um novo, na verdade, enquanto reflete sobre a vida que passou, sobre Mrs. Ramsay e suas qualidades e defeitos, sobre ela não estar lá, sobre querer que ela casasse com o botânico viúvo Mr. Bankes (ela nunca casou), sobre a beleza de Mrs. Ramsay e sua personalidade meio direta, prática, submissa… Lily lembra de várias outras coisas e episódios da vida naquela casa e fora dela - o casamento de Paul e Minta, por exemplo, que não “deu certo” depois de um tempo (aqui Lily também faz uma suposição do que acontecera) mas o importante é que, mesmo não estando apaixonados, os dois eram felizes, e isso sim importa. Lily reflete que tudo que está refletindo é sobre o sentido da vida... E vê “aparições de Mrs. Ramsay” na sala, inicialmente sobre a visão de William Bankes, que, segundo ela, achava Mrs. Ramsay lindíssima e tinha uma paixão por ela. A Mrs. Ramsay fantasma vai servindo de modelo para Lily, que tem algumas crises, querendo falar com Mr. Carmichael (poeta meio decadente como pessoa que estava na primeira viagem também e não gostava de Mrs. Ramsay). Lily pensa em falar com ele, mas não o faz, por não saber o que quer dizer. Quer lidar com esse vazio que sente, com esse vazio que Mrs. Ramsay deixa também. Ao mesmo tempo, Mr. Ramsay, James e Cam estão indo para o farol, junto a um pescador. James e Cam fizeram um pacto para combater a tirania de seu pai, que James odeia (ou acha que odeia). Todos tem essas questões com o autoritarismo de Mr. Ramsay (e de sua esposa também em outros sentidos), mas para James é que pega mais forte. No fim, eles chegam ao farol e o pai elogia o filho, que vinha conduzindo o barco. No fundo, era o que James queria (ou pelo menos é isso que Cam acha).

Lily também consegue terminar seu quadro, deixando para trás as dúvidas - ela pensa que Mr. Ramsay chegou ao farol e depois, Mr. Carmichael acorda e responde ela que também acha que Mr. Ramsay já chegou ao farol, como se estivessem conversando antes (o que não estavam fazendo; ele estava dormindo). Nesse momento, se confirma o pensamento de um personagem com a fala do outro, o que mostra que é possível uma conexão entre os dois. Ela faz, decidida, uma linha no quadro, e termina. Não vê mais as aparições e está bem com isso (antes queria ver Mrs. Ramsay ou queria falar sobre isso, ou queria estar no passado ou queria ter alguém... Enfim; queria...)

Ou seja, um final em que nada de fato muda. São “apenas” os pensamentos, que, na verdade, estão mudando a todo momento. O que há no final é uma aceitação, o fim de um trabalho, um entendimento de si mesmo...

Esse livro é, para mim, uma grande ode ao pensamento, uma elegia, mais do que aos pais de Woolf, às pessoas como são, cheias de defeitos e contradições, em uma sociedade contraditória, com seres contraditórios e em conflito uns com os outros e consigo mesmos. Não há o ser uno - ele se faz com a conexão com o outro, mas essa só é total em alguns breves momentos.

Acho interessante a figura do farol e da viagem. Gera o ódio de James por seu pai - por querer ir e não poder ou por não querer e ir forçado; introduz a relação ambígua e conflituosa de Mrs. Ramsay com seu marido (que insiste que a viagem ao farol no dia seguinte seria impossível) - ama, admira ele; o acha insensível, egocêntrico, quase insuportável. É a partir dessas discussões sobre o farol que percebemos as nuances da família e das personagens. Além disso, funciona como essa figura forte, no meio do caos do mar. É algo que sempre está lá, uma espécie de segurança.

O que seria chegar ao farol? Não sei, pode ser muita coisa (e a própria autora o diz, segundo a introdução). Para mim, é, de um lado, essa busca por algo, uma saída, uma aventura é uma certeza de que aquilo está lá. De outro, quando a viagem de fato se dá, é uma concretização do que pensamos e a diferença em relação a isso - é talvez a união, finalmente consolidada, entre pensamento e realidade. É o ódio, a raiva, a aventura, o pai, o filho, é tudo... A mesma coisa em relação ao quadro (livro) que Lily finalmente concretiza - exatamente sobre as relações de todos.

No fim, “I have had my vision” - acabou.

Quatro personagens que me tocaram bastante:

- Mrs. Ramsay, com sua beleza e infelicidade, depressão, mas vontade de dizer aos outros o que fazer (casar); sua piedade, sua bondade, sua praticidade, seu amor incondicional e orgulho pelo marido e, ao mesmo tempo ou em outras ocasiões, seu desgosto com ele (por ter que ser superior às vezes) e até indiferença. Sua inteligência e quase infantilidade - gosta de alguma literatura mais pela forma, quase sem incorporar o significado das palavras (algo importante na escrita de Woolf).

- Mr. Ramsay, com sua loucura, com seus devaneios, sua vontade de ser louvado e de ser grande, mas a consciência de que não é AQUELE gênio que será lembrado (como filósofo). Seu autoritarismo de querer que todos sintam pena dele, e que façam as coisas conforme ele imagina, mas sua maturidade de perceber às vezes quando fazia isso e simplesmente deixar estar a situação (o que não o impede de voltar à "autopena" logo depois). Talvez o mais interessante, sua consciência de que não é o gênio de uma geração (não atinge o R, que tanto almeja) e o medo de não ser lembrado, o medo da mortalidade.

- Mr. Tansley, com seu ódio às mulheres, que parece ser uma maneira de expressar um ódio de classe. Mais pobre que todos os outros (que não eram exatamente ricos), tem raiva e orgulho de suas origens. Sabe-se no final que pregara irmandade durante a guerra, mas zombava de Lily e de sua pintura, dizendo que mulheres não conseguiriam pintar. Ele é odiável e odiado por todos, e também odeia todos, mas se apaixona por Mrs. Ramsay, brinca com Lily em determinada lembrança. É um personagem interessantíssimo, que também reflete um pensamento se o mundo é mais importante que a arte, se fazer arte faz algum sentido.

- Lily, com sua vontade de se rebelar, sua crítica a todos, mas sua timidez com tudo, gerando também uma submissão. Ela tem uma visão ampla, às vezes falha, mas mais total, de todos, com suas falhas e positivos. Ela tenta capturar exatamente essa visão total do lugar e das pessoas em sua pintura - uma bela metáfora para a escrita do livro: com suas idas e vindas, com crises, com lembranças, a pintura é como um exercício de memória - como uma necessidade dolorosa, mas, no final, um alívio, uma completude. Aqui cabe dizer que, na introdução (que, ainda bem, li depois de ler o livro) é dito que, para Woolf, a escrita desse livro tinha um fundo de psicanálise para si mesma, o que faz muito sentido quando se pensa na pintura de Lily.

Lendo a introdução, o que achei interessante de lembrar:

- O lado polêmico e político fica “escondido” embaixo do sensorial, dos personagens e da “arte”.
Interessante que a arte é vista por Tansley como algo das elites. Aí lembramos a reflexão de Mr. Ramsay sobre se Shakespeare é mais importante que o funcionário do metrô. É um questionamento de Virginia Woolf sobre a importância ou não do que está fazendo.

- O livro é cheio de formas (pedaço, triângulo, quadrado etc.). Elas tem um fundo de simbolismo, mas não para nada específico. Funcionam mais como algo estético e sensorial. Nesse sentido, interessante pensar em como ela pensava na escrita - ondas e formas que causam certas coisas; as palavras meramente se encaixam nessas ondas.

- A linguagem é totalmente adequada à narrativa e, em especial à personagem de Mrs. Ramsay, com as contradições, o fluxo de pensamento, as interrupções, os parênteses. Como a personagem, a linguagem tem sua unicidade na contradição.

- Relação dos personagens com o externo é importante para o livro: o farol, o mar; os eventos políticos, a guerra, a estrutura de classes.

- Família Ramsay como filantropos vitorianos, que veem os pobres como indivíduos, mas não como classe. Eles acham até bonito algumas coisas (pescadores). Essa estrutura é destruída na guerra.

- No final, Lily para de ver Mrs. Ramsay. Virginia Woolf diz o mesmo sobre sua mãe após terminar de escrever o livro. Para de obcecar com ela.

- O jardim toma para James, Cam e Lily uma característica de Eden. A linguagem da mãe, para James e, especialmente, Cam, tem essa coisa da linguagem da infância, do conforto - as ondas e o ritmo antes das palavras em si, tão presente no livro.

- O livro é muito sobre a morte e os finais - dos personagens (o desejo de morte de Mrs. Ramsay e sua morte real), dos eventos e da própria escrita. Da mesma maneira, é sobre repetições - a ida ao farol da imaginação e a real; os pensamentos dos personagens imaginados por outros e por eles mesmos; a presença de Mrs. Ramsay no começo e no final, como modelo-fantasma para a pintura de Lily; a própria pintura de Lily; enfim, muita coisa…

Uma última consideração: a edição é interessante, com notas muito boas e uma introdução bastante interessante, mas, ao mesmo tempo, com notas desnecessárias ou em lugares errados (poderiam propor a reflexão depois do trecho que se acabou de ler, não antes). Da mesma forma, acho problemático colocar a introdução como uma introdução - é um texto crítico, uma breve análise que caberia como um posfácio.

Enfim, um livro fantástico, inigualável e diferente de tudo que já tinha lido - moderno, mas embasado em tradições, segundo Hermione Lee, responsável pela introdução e notas.