A review by andrepithon
The Nonexistent Knight by Archibald Colquhoun, Italo Calvino

2.0

2.5

Percebo que nunca escrevi sobre Dom Quixote. Li Quixote no meio da pandemia de 2020, quase completamente, para uma matéria optativa sobre o livro. Na época, ainda não era viciado em Goodreads, e não me expressei aqui. Hora de retificar isso. Hora de retificar isso na resenha de um livro completamente diferente. (Mas deixei a uma estrela que Dom Quixote merece na página dele)

Dom Quixote é repetitivo, você tem a história clássica do "Hurr Durr quero matar moinhos" no primeiro punhado de capítulo, e depois as mesmas piadas e cenários se repetem ad infintum. O humor é ruim, grotesco e escatológico, "haha, olha ele com medo se cagando, haha". A crítica aos épicos de cavalaria é tão diluída que perde quase qualquer potência, homeopática. Beleza, importância histórica, justo, mas se observado por uma ótica de 2023, é praticamente ilegível, e gosto de não dar estrelas extras aqui no Goodreads pelo mérito de algo ser velho.

O Cavaleiro Inexistente, de Italo Calvino, é quase a mesma história. É muito melhor, infinitamente melhor, incomparável. Ainda é meio ruim, obviamente, mas "meio ruim" está eras de distância de Dom Quixote.

Agilulfo não existe. Ele é um conjunto vazio de armadura, parte do exército de Carlos Magno, que existe por pura força de vontade, por sua forte e inquebrável adoração aos valores de cavalaria. E toda a obra se dá desconstruindo esses valores, apontando o absurdo nas tradições tão bem estabelecidas, no mais tradicional estilo de paródia. É uma paródia melhor que Dom Quixote, consegue passar sua mensagem muito mais rápido (Cervantes fdp escrevendo dois livros por nenhum motivo só pra ganhar mais dinheiro), em alguns raros momentos consegue arrancar algum sorrisinho, mesmo que nunca uma risada.

Mas nunca mais que isso. Alguns episódios são irrelevantes, filler. Alguns personagens não realmente possuem motivo para existir, e tiram o foco no núcleo principal. Qualquer mensagem existencialista se encontra escondida abaixo de uma montanha de lixo, e eu não vou sujar minhas mãos escavando. Mas ainda assim, em alguns momentos, um flash da genialidade de Calvino que tanto me fascinou em Cidades Invisíveis resplandece, e algumas cenas são boas. Há uma parte em que a narradora começa a descrever que teria que descrever toda a jornada longa e detalhada de Agliufo, suas aventuras e peripécias, mas bate a preguiça e ela só rabisca umas linhas num mapa. 10/10 achei engraçado, me lembrou de Dom Quixote, se tivesse uma página rabiscadona sem nada no meio eu ia achar a melhor parte do livro.

Dom Quixote e O Cavaleiro Inexistente são dois livros muito parecidos, cuja aproximação ao tema parte de um ponto muito similar, e cujo objetivo é ironizar os clássicos de cavalaria. Ambos são ruins. Um é muito melhor que o outro.