A review by rui_leite
Leviatã by Scott Westerfeld

4.0

Com história alternativa, biotecnologia, tecnologia steampunk, primeira guerra mundial, politica caótica (historicamente correcta, portanto), príncipes em fuga e raparigas que se disfarçam de rapazes para se juntarem ao exercito, Leviatã tanto poderia correr muito bem como terminar numa imensa salgalhada sem direcção. Felizmente o resultado final parece-me, de facto, bastante bom. Scott Westerfeld conseguiu equilibrar de forma muito eficaz todos estes elementos fazendo até com que, por vezes, chegasse a ser fácil esquecer o complicado jogo com que ele estava a trabalhar. Mas o que ele faz aqui não é, de forma alguma, tão simples como parece. Os ingredientes é que aparecem todos tão bem doseados, nunca deixando nenhum avassalar os outros, que o leitor (ou, pelo menos, este leitor) tende a não notar a quantidade de informação que está, na realidade, a receber. Isso, somado ao facto da história conseguir manter um tom para “young adults” sem nunca se tornar demasiado simplista ou açucarada, torna este livro num complicado trabalho de malabarismo que foi, quanto a mim, muito bem sucedido.

Fiquei particularmente surpreendido com a facilidade com que aceitei a tecnologia Darwinista, baseada em manipulação genética no inicio do século XX, sem precisar de grande suspensão da descrença (só, um bocadinho, vá)... admita-se que o vapor dos Clankers sempre seria mais fácil de engolir, mas baleias voadoras e criaturas afins...bem... diga-se o que se disser, é preciso talento para se apresentar tudo isso como algo plausível, mais próximo de Ficção Cientifica do que de fantasia.

Por outro lado também tem que ser dado bastante crédito a Keith Thompson já que as suas ilustrações foram, em grande parte, responsáveis pela minha rápida aceitação do universo como algo “concreto” e “real”... este parece-me ser um daqueles casos em que o ilustrador foi quase um co-autor, já que as imagens, embora não sendo muitas, quando surgem têm um tom perfeito e constroem o mundo quase tanto como o texto. Nesse sentido, este parece-me ter sido uma casamento bastante feliz.

A história, em si (pelo menos para já), parece-me bastante simples, não a achei particularmente impressionante ou inovadora, mas o facto desta ser contada em duas perspectivas diferentes ajuda bastante a nunca se perder o interesse nela. Para além do mais, verdade seja dita, Westerfeld, mesmo estando a jogar com algumas tropes bem conhecidas, lida bem com elas e não deixa nunca que haja um sentimento de "cliché". As personagens, o universo e o bom ritmo de narrativa são mais que suficientes para nunca haver lugar para aborrecimento.


Leviatã é, assim, acima de tudo, um livro terrivelmente divertido de se ler no melhor sentido da palavra...portanto venha lá o próximo que este, francamente, deixou-me curioso.