A review by alexiasophii
Tempero de Bruxa: Desvendando os mistérios da Culinária Mágica by Amanda Celli

Did not finish book. Stopped at 15%.
 DNF @ 65 páginas.

Esqueçam, não dá. Eu tenho de dizer que estava MUITO entusiasmada para começar este livro. Como poderão saber eu sou Bruxa de Cozinha e até tenho um curso de bruxaria de cozinha no Sob o Luar e é uma temática que eu amo. Então quando vi um livro sobre Bruxaria de Cozinha EM PORTUGUÊS eu fui a correr comprar no Kindle. Mas.... não deu.

Aqui ficam alguns pontos que eu não gostei:

- A autora começa por falar sobre História sem não chegar a citar qualquer trabalho ou fonte histórica, alegando coisas na Pré-História como "Em sua missão, as mulheres aprimoraram duas artes: a culinária e a agricultura. Por meio da observação da natureza, elas entenderam os ciclos das estações e os mistérios das plantas, passando a cultivar o próprio alimento, sempre guiadas pela sabedoria da Mãe Terra. As primeiras hortas e canteiros de ervas foram gerados pelos saberes das mulheres que buscavam nutrir toda a tribo através dos alimentos cultivados com amor e carinho e que seriam preparados por elas. Celli, Amanda; Celli, Amanda. Tempero de Bruxa: Desvendando os mistérios da Culinária Mágica (pp. 12-13). Edição do Kindle.". Citações? Nenhumas. Este discurso continua pelo livro todo, passando por teorias que as mulheres faziam Bruxaria de Cozinha escondidas da Inquisição e do "Patriarcado" ao longo de todo o livro, como se uma tradição inquebrável viesse desde tempos primordiais até à atualidade. O que não é real nem reconhecido pela comunidade historiadora (para isto recomendo lerem sobre sobre as críticas colocadas aos autores como Robert Graves, Marija Gimbutas, entre outras que propagaram este discurso nos finais dos 1800s).

- O livro fala incessantemente da "Deusa Mãe"/"Deusa Gaia". Não me entendam mal, eu sou politeísta helénica e amo os Deuses. Mas é desnecessário, num livro sobre Bruxaria falar constantemente de Deuses. Há Bruxes ateus, Bruxes seculares, Bruxes de outros panteões. A Bruxaria de Cozinha não precisa de estar ligada a qualquer tipo de divindade, contudo, ao longo de todo o livro é feito como se a Bruxaria de Cozinha fosse uma arte mágica dada "pela grande Mãe". Não estou a dizer que isto signifique que a prática ou crença da autora está errada, apenas que deveria ser especificamente mais claramente que este livro é um livro voltado para o Culto do Sagrado Feminino e das vertentes diânicas do Paganismo, ao invés de um livro só sobre Bruxaria de Cozinha.

- Houve uma passagem no livro que me incomodou, nomeadamente: "Hoje em dia preferimos recorrer aos remédios presentes nas farmácias, que ajudam a tratar os sintomas e trazem alívio para a dor, mas que não conseguem curar a causa da maioria das doenças que estão se abatendo sobre nós: a falta de conexão com a natureza e seus ciclos. Celli, Amanda; Celli, Amanda. Tempero de Bruxa: Desvendando os mistérios da Culinária Mágica (p. 17). Edição do Kindle. ". Eu adoro técnicas de medicina natural e acho que há muita coisa que pode ser curada ou auxiliada através de Magia ou através de práticas naturais. Contudo, considero uma irresponsabilidade estarmos ativamente a fazer da ciência actual e da medicina como se fosse algo sem importância e que "plantas fazem o mesmo que medicação faz". Há imensas pessoas que necessitam de medicação no seu dia-a-dia. Seja em doenças crónicas, saúde mental, cancros, etc. A toma da medicação é válida e deve ser aceite, sem qualquer tipo de juízos de valor por parte de autores. Se a autora não concorda, tudo muito bem, o corpo é dela e fará com ele o que pretende, mas é uma irresponsabilidade dizer a leitores que ervas e plantas fazem melhor do que aquilo que os seus próprios médicos recomendam. Esta citação deixou-me um gosto azedo na boca.

- Na página 35/35 (versão kindle) a autora aborda a parte ética dentro da Bruxaria de Cozinha. A meu ver, a ética é sempre algo complicado de se abordar na Bruxaria porque a Bruxaria não possui éticas estruturadas. A Bruxaria é uma ferramenta que pode ser utilizada em qualquer vertente religiosa ou secular e a ética a ser aplicada é a do próprio praticante. Contudo a autora não só defende que nunca deve ser feito nenhum mal com a Bruxaria de Cozinha (um conceito que, a meu ver, é bastante inspirado na Wicca com o "Do No Harm") mas também indica que a Bruxa deve sempre fazer o bem, caso contrário "(...) próprio espírito da planta poderá ir contra a sua intenção, impedindo a sua manifestação. Celli, Amanda; Celli, Amanda. Tempero de Bruxa: Desvendando os mistérios da Culinária Mágica (p. 36). Edição do Kindle. ". O que, com todo o respeito, é ridículo. Não podemos colocar os nossos valores morais e éticos em seres que são superiores a nós. Eu até poderia começar todo um discurso que o conceito de espíritos dentro de plantas é um POV animista e nem todos partilham dele, mas nem vou por aí. Vou só mesmo pelo facto que nem toda a gente quer ou deseja fazer "sempre o bem". Até porque o conceito de "Bem" é um conceito vago. Se eu me candidatar a uma vaga de emprego e fizer uma bebida para me ajudar a ganhar aquela vaga vou estar a fazer bem para mim mas mal para outros que se estavam a candidatar e agora ficam sem o emprego e até podem perder a casa, por exemplo. É possível aconselhar aquilo que achamos ser certo sem impingir os nossos valores nos outros e acho que aqui falhou isso.

- Por fim, o livro pareceu-me toda uma salada de frutas. Desde Deusa Mãe/Sagrado Feminino, Espíritos Animistas, Provérbios Indígenas, Chakras, Ayurveda, Astrologia, Feng Shui... bem, eu acho que não falta meter o bedelho em mais lado nenhum. Foi como chegar a um buffet de religiões e práticas do mundo inteiro e tirar um bocadinho de tudo para experimentar. Não gostei, muito sinceramente.

Conclusão: O livro garantidamente não é para mim e fiquei com bastante pena porque estava muito entusiasmada e foi uma desilusão.