gabrielleap 's review for:

Palmeiras Selvagens by William Faulkner
3.0

Palmeiras Selvagens é uma obra dupla, dois relatos aparentemente desconexos, mas que, ao longo da narrativa, se iluminam mutuamente, falando muito sobre a condição humana e a nossa relação vertiginosa com o destino.

Em 1937, um homem e uma mulher decidem se entregar a uma paixão avassaladora achando que isso os libertará das amarras da sociedade e de suas próprias inibições. Ela, casada, quer renunciar a moralidade e o dever maternal; ele, eterno estudante, foge do peso da conclusão de sua faculdade de medicina e uma vida de responsabilidade. A fantasia não dura, ambos acabam tragados pelo incontornável destino que cobra o preço desse estilo de vida. Preço alto.

A tradução da frase mais marcante do livro me deu vontade de berrar, pq o duplo sentido da palavra “grief” (luto) se perde quando traduzido apenas para “dor”. "Entre a dor e a nada, escolho a dor". Gostei da reflexão explícita entre a carne e a memória, para que você lembre é preciso que você esteja vivo. Sentir a dor na pele. O luto na pele.

O título original do manuscrito era “If I Forget Thee, Jerusalem” (em português, Se eu te esquecer, Jerusalém), vem do Salmo 137:1-9, e expressa a profunda nostalgia dos judeus exilados na Babilônia. O salmo tenta evocar a lealdade a Jerusalém, mesmo no sofrimento, com o verso "Se eu me esquecer de ti, ó Jerusalém, esqueça-se a minha destra de sua destreza". Parece que Faulkner escolheu este título para enfatizar essa fidelidade ao sofrimento que seus personagens experimentam de forma recorrente. No entanto, a editora rejeitou o título, temendo que pudesse gerar sentimentos antissemitas.

Já no Mississippi, dez anos antes, uma pessoa privada de liberdade é levada pela enchente de um rio, como o nosso “Velho Chico”, e acaba em uma missão de resgate. Mesmo diante da oportunidade de fuga, ele opta por salvar uma mulher grávida, apenas para ser recompensado com mais anos de prisão, como se o destino zombasse de sua determinação.

Acho que as palmeiras selvagens que se agitam no vento, presentes tanto no início quanto no fim do romance, são esse paralelo entre a natureza e natureza humana, como escapar? É possível?

E, claro, não podia deixar de comentar que não gostei das personagens mulheres do livro … São descritas como se elas fossem as catalisadoras das tragédias dos homens, as culpadas pelo sofrimento e pela “prisão” — real e metafórica. Querido, nos poupe