A review by jiangslore
Legendborn by Tracy Deonn

adventurous emotional hopeful inspiring
  • Plot- or character-driven? A mix
  • Strong character development? Yes
  • Loveable characters? It's complicated
  • Diverse cast of characters? Yes
  • Flaws of characters a main focus? It's complicated

3.5

[3,5/5] 

“Legendborn”, apesar de alguns aspectos negativos, com certeza possui o que há de mais interessante na fantasia infanto-juvenil contemporânea. O estilo de escrita e a abordagem de temas muito interessantes com seriedade e sem idealizações diferenciam o livro de muitos outros que possuem o mesmo público-alvo. No entanto, o livro pecou no desenvolvimento de outros aspectos da história, além de recorrer a clichês do gênero que, embora não sejam uma questão que penso que vai incomodar todas as pessoas que pretendem realizar a leitura, com certeza foram pontos negativos na minha experiência.

Um dos pontos positivos mais expressivos do livro é a escrita. Desde o prólogo, fiquei muito interessada no estilo usado pela autora: é abstrato, mas sem enrolações, e é sensível o suficiente para abordar de uma maneira satisfatória os temas complexos que fazem parte da vida da protagonista — tais como o luto em razão da morte de sua mãe — e do enredo. No entanto, no primeiro um terço do livro, apesar da escrita em si ser boa, achei que as descrições e explicações dos aspectos fantásticos da narrativa foram realizadas de um modo que acabou prejudicando a fluidez que a escrita, por si só, possuía.

Na parte inicial do livro, há muitas informações são “jogadas”, de um modo que pareceu que Bree conseguiu descobrir “do nada” aspectos que não são facilmente entendidos. Ao mesmo tempo, aspectos básicos do universo tiveram que ser explicitamente explicados para ela. Acredito que isso fez com que algumas coisas ficassem um pouco confusas, seja porque explicações de questões “simples” demoraram para ocorrer, seja porque o leitor passou a se perguntar como Bree sabia de certa coisa ao invés de apenas assimilar a informação.

Mas, à medida que fui avançando na leitura — e após já saber qual era a proposta do universo e seus contornos principais — , acredito que os aspectos positivos do livro ficaram mais evidentes. Em geral, não sou fã de releituras, mas gostei muito da forma que a lenda do Rei Arthur foi colocada na história. A autora abordou muito bem partes concretas que normalmente são ignoradas, como o papel da Ordem no domínio da sociedade e o que isso significa em um país que tem a escravidão como parte de sua história. 

Algo muito interessante, em especial porque os acontecimentos do enredo ocorrem em uma universidade, é a relação que tais aspectos da Ordem tem com a academia tradicional. Entretanto, isso não só não foi abordado no livro como também não houve praticamente nada relacionado à vida acadêmica de Bree. Embora não fosse a proposta principal do livro tratar disso, sinto que essa ausência quase completa teve consequências negativas para o equilíbrio do enredo. 

Com relação ao enredo, há outra coisa que preciso destacar: o clímax de “Legendborn” é muito bom. Durante toda a leitura, eu fiquei me perguntando se a autora realmente abordaria certas questões de forma explícita, porque não abordá-las não pareceria combinar com o tom do livro, mas abordá-las poderia fazer com que ele se tornasse sombrio demais. No entanto, fiquei bem feliz ao ver que a autora não teve medo de ir aos lugares mais sombrios das questões raciais e de gênero que ela decidiu abordar. Algo que me incomoda em muitos livros é a a falsa profundidade de certos temas, mas isso definitivamente não é um problema em “Legendborn”. 

Mas o que é um problema em “Legendborn”, na minha opinião, são os personagens. Não há nada que eu diria que é objetivamente “errado” na construção deles, mas penso que faltou algo que fizesse com que eu realmente me importasse com todos (ou com alguns). Acredito que Bree é a única exceção, porque ela, além de ser a narradora, realmente tem um desenvolvimento muito bom e interessante. Mas, tirando isso, os personagens só parecem ser adaptações de clichês conhecidos — e, ao que parece, é bem possível que essa mesma característica seja levada ao romance principal da saga. 

A existência desses clichês no livro é compreensível, e sei que é válido que pessoas de minorias queiram ser protagonistas em histórias que são classicamente amadas por boa parte do público. Por essas razões, continuo achando que “Legendborn” é um bom livro e vai satisfazer quem esteja procurando uma fantasia infanto-juvenil agradável e cheia de aventura. Mas acredito que a existência desses clichês, nos personagens e (ao que parece, mas não dá para entrar em detalhes sem spoilers) no romance, foi tão destoante da profundidade incrível de outros aspectos do livro que acabou me desagradando durante a leitura. 

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