A review by sachasme
O Homem do Castelo Alto by Philip K. Dick

3.0

**3,7**

Eu não sei bem ao certo como começar essa resenha, porque esse livro realmente é algo totalmente diferente das histórias que costumo ler. E isso é bom e ruim ao mesmo tempo. Esse livro me causou reflexões e pensamentos interessantes, mas também foi um livro pouco interessante em si. Para mim, isso se deve ao fato de que esse livro não é sobre sua história ou personagens, ele é sobre sua ambientação, e isso é algo que nunca tinha lido antes.

A história se passa em 1962, num Estados Unidos que perdeu a guerra e agora tem seu território dividido entre o Reich nazista (a maior parte) na costa leste, Japão na costa oeste, e uma área neutra no meio chamada Estados das Montanhas Rochosas, com um governo autônomo - a ambientação se dá principalmente nesses dois últimos. Seguimos cinco ou seis personagens que vivem nesse universo enquanto a vida deles se desenrola tendo como pano de fundo as tensões entre Japão e Alemanha e as diferenças entre nossa história e como a história no universo do livro aconteceu.

Analisando esse realidade alternativa que o autor criou, o livro se torna realmente interessante. Temos consequências que são óbvias, como a continuação do Holocausto por parte dos alemães, e também consequências sutis, como os brancos não serem considerados a raça dominante (especificamente brancos dos Estados Unidos). O autor exagera um pouco nas consequências em larga escala, e nisso eu estou me referindo especificamente ao livro citar que a África foi praticamente toda destruída pelos Alemães - ao mesmo tempo, ele brinca com a existência desse livro, The Grasshopper Lies Heavy, onde EUA e Inglaterra ganharam a guerra e o mundo se tornou uma utopia. Nesse sentido, imagino que o autor quis passar que nossa realidade não é a melhor que poderia acontecer, e sim algo no meio. Essa parte específica foi interessante, mas não me impressionou muito.

Por outro lado, as consequências mais sutis da ocupação japonesa foram detalhes que realmente me interessaram no decorrer do livro. A forma como o ideal de beleza se torna traços japoneses, ou como os brancos se esforçam para se encaixar nas tradições e hierarquias japonesas, ou como eles se vêem profundamente envolvidos com tradições como o I-Ching. É possível perceber como os assuntos da cultura dominante são vistos como superiores, e é bem fácil notar como isso é um espelhamento da nossa realidade.

No entanto, ao mesmo tempo em que esses planos de fundo são interessantes, a história em si não é. Não me senti particularmente apegada ou preocupada com nenhum dos personagens que acompanhamos, e as histórias deles não tem realmente objetivos, são simplesmente personagens vivendo suas vidas e tomando decisões que afetam os outros. Como objetos que servem para demonstrar como o sistema funciona, eles são ótimos, porém como personagens, falta a eles algo, uma qualidade que nos faça amá-los ou odiá-los - que faça com que nos importemos, de uma forma ou de outra.

Minha nota final reflete um pouco da minha confusão acerca do livro. É uma boa história, mas não é ótima. A ambientação é muito interessante, mas os personagens parecem existir simplesmente para evitar que o livro seja um longo monólogo de como o autor imaginou essa realidade alternativa. É um livro de certa forma genial, e eu admiro o autor por nos demonstrar como o universo funciona nas entrelinhas, mas ao mesmo tempo a falta de alma e objetivos dos personagens me incomodou.

Talvez o livro seja realmente sobre isso, como todos somos apenas pequenas engrenagens num sistema enorme e que por mais que façamos diferença em pequenas questões do dia a dia, não fazemos no grande esquema das coisas. Acho uma reflexão interessante. Mas isso ainda é um livro, e eu gostaria que não parecesse tão desconectado, que houvesse de fato uma história sendo contada e não apenas demonstrações desse sistema criado.