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thebookthiefgirl 's review for:

Budapeste by Chico Buarque
3.0

3,5⭐️

“Sem ser velho tinha a pele do rosto ressequida, provável sequela do sol do Rio, sete verões com a pele a se soltar da pele a se soltar da pele até chegar a essa, uma pele com um quê de papel , uma casca provisória que foi ficando .”

Francisco Buarque de Hollanda, para além de ser um compositor e cantor conhecido , tem também a mestria da ficção .

Em “Budapeste “ , a narrativa passa-se à volta de José Costa, um ghost writer de talento indescritível e aprendizagem rápida , que vive duas existências paralelas , dois amores e em duas cidades, Rio de Janeiro e Budapeste. De maneira alegórica à capa do livro , o protagonista vê-se perante o reflexo de si próprio em ambos os mundos, enlevando -nos para a sua incomplexidade e insegurança perante a vida .

O plot do livro não é o que cativa mais , embora a mestria e a filosofia por trás sejam interessantes . Pois se o homem se insere em ciclos viciosos , qualquer que seja a existência , será que o nosso destino está determinado ou depende da nossa vontade ?

Chico Buarque brinca imenso com as palavras , faz delas uma canção autêntica , o que comprova os seus dotes musicais . A cada palavra , cada frase , cada parágrafo , parecia que me fazia acompanhar por um coro ou concerto de fundo .

“Eu não sabia que escrever poesia , e todavia estava escrevendo um poema sobre andorinhas . Sei que era poesia , porque intraduzível ,a não ser para o dialeto székely , onde na palavra andorinha , facksë, também soa este bater de asas, feckse.”

A obra foi inclusivamente recomendada por José Saramago e Chico Buarque foi galardoado com o Prémio Camões em 2019, comprovando o talento da literatura lusófona .