A review by wisteriavenusta
Testament Of Youth by Shirley Williams, Vera Brittain

challenging dark emotional informative reflective sad tense slow-paced

4.25

Acredito que – para além de trabalhos da escola manhosos – nunca tenha escrito qualquer tipo de crítica a algum livro, não obstante, este conjunto de páginas merece ter algumas palavras escritas sobre ele; vocábulos inquietos que servirão como agradecimento pela sua estadia num papel. Confesso que demorei demasiado tempo a ler este livro. Recordo-me que no início de 2021, ouvi falar sobre este livro algures – uma biografia espantosa sobre uma enfermeira na Primeira Guerra Mundial que perdeu quatro pessoas (dois amigos, o seu irmão e o seu amado) num contexto de guerra, que nem eles sabiam muito bem no que ia acabar. Pareceu-me extraordinário, mesmo que trágico. Despertou-me uma séria curiosidade, já que estes livros sempre têm perspetivas masculinas e violentas – agora tinha posse de uma perspetiva feminina e feroz. 

Não é um livro fácil (tanto que só o estou a terminar mais de um ano depois de o ter começado), mas, decerto, é um livro onde se consegue mergulhar, ficar submerso, experienciar todos os bocados que a autora nos apresenta; saborear as suas experiências, lutar com ela, prantear os seus agouros, fazer o luto com ela, escrever versos, observar o quotidiano – tudo isso, enquanto estamos perante meras palavras, uma vez escritas num papel, agora transferidas para um papel mais limpo, menos um rascunho. Vera Brittain, com as suas convicções duras, observações prepotentes e a magia do que nos consegue transmitir, conseguiu fazer uma Obra de Arte através da sua melancolia, do seu pesar. Desde a sua infância, à sua vida numa Inglaterra purgada por costumes vitorianos, até à sua rebeldia de uma Geração Perdida à tentativa da normalidade num mundo pós-guerra, onde havia uma dicotomia entre modernidade e os costumes. 

Embora nos percamos no livro, é, definitivamente, um livro do seu tempo. Muitas das referências feitas no livro só fazem sentido caso haja um estudo intensivo de História ou se tenha sido inglês nos anos 20, são experiências muito específicas e pouco populares. No entanto, o seu pensamento progressivo faz com que o livro pareça mais jovem do que é – Vera consegue cativar leitores de gerações futuras com os seus discursos e opiniões de um tempo já longínquo, um pouco apagado pelas décadas seguintes. O seu feminismo, seu pacifismo e progresso até ao socialismo são lições para quem lê posteriormente – uma mulher invicta que se atreveu a pensar para além das suas circunstâncias, que usou a sua educação para alcançar um bem-maior, que quando as limitações surgiram, mirou-as frontalmente e desviou-se, fazendo o seu nome. Algo bastante agradável de ler, foi, também, a sua sensibilidade. Os seus medos, as suas preocupações, que, mesmo sendo uma figura de aço, também tinha certas concepções sobre o amor, sobre relações interpessoais, opiniões pouco simpáticas sobre certas pessoas, dissertações sobre fisionomia e psique de quem está a seu redor. Não são simplesmente memórias debitadas, mas a narração de um conto contado por quem o viveu e o quer transmitir, uma tertúlia pessoal, um jantar de família. 

No Universo de Vera Brittain, existem trincheiras, existe lama, existe sangue, existem ligaduras, no entanto, existe também, uma geração de mulheres vestidas de branco que segurou este conflito grandioso, apenas com as suas próprias mãos (e por vezes treinos pouco intensivos por causa da escassez). Ainda bem que Vera Brittain será sempre relembrada pela História, que não se submeteu à insignificância que tanto lhe tentaram impingir. 

E, sim, as últimas 200 páginas (depois da Guerra acabar, sensivelmente) foram intrigantes, mas, com todo o pesar, foram penosas. Uma caneta muito densa, muito intimista – o relatório dos acontecimentos foi doloroso, contudo, o pensamento de Vera em relação à sua condição foi sempre bem-vindo, sensível e aprazível. 


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