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A review by dany_casimiro
Yellowface by R.F. Kuang
challenging
dark
informative
inspiring
reflective
tense
medium-paced
- Plot- or character-driven? A mix
- Strong character development? Yes
- Loveable characters? No
- Diverse cast of characters? Yes
- Flaws of characters a main focus? Yes
4.75
[PT:]
5 estrelas são, por vezes, uma classificação ambígua. Ou, pelo menos, um pouco mais complicada do que parecem à primeira vista. Yellowface de R. F. Kuang é um exemplo disso.
Kuang procura desafiar-se: poderia ter escolhido qualquer outra personagem para protagonista, mas optou por aquela que talvez mais diretamente se opõe ao seu próprio lugar de fala. Isto adiciona uma camada extra a tópicos como questões de autoria branca/minoritária na indústria editorial. Soluções a curto-prazo como o estabelecimento de “quotas minoritárias” para a quantidade de publicações dentro de uma editora, por um lado, dão origem à noção de que “já temos um autor asiático/negro/minoritário nesta temporada e, portanto, não podemos aceitar mais". E depois o inverso: as vozes brancas perdem a sua relevância e aceitação. Ambas as faces desta moeda cada vez mais complexa são exploradas através da perspetiva de June – uma mulher branca que faz o inimaginável: rouba a história de uma autora asiático-americana na noite da morte desta última.
A relação entre as duas mulheres – June e Athena – é uma obra-prima no desenvolvimento de personagens matizadas. Pode-se dizer que se trata apenas de ódio, ou que June é motivada pela inveja, o que é verdade, mas a relação deles é uma discussão sobre como a difícil atualidade da indústria livreira. Yellowface enfatiza o processo de edição e marketing – considerado por June como a verdadeira força motriz por trás do sucesso de um livro. A parte da tradução também é mencionada, apenas brevemente provavelmente porque fora já o foco de Babel.
É um livro controverso, para dizer o mínimo. A história constitui uma crítica pungente à indústria literária na sua forma atual. Em vez de se esquivar de problemas como elitismo, colorismo e minorias, aborda essas questões com a severidade que elas exigem, olhando as de frente e explorando o seu significado e consequências. É um excelente livro, não devido à forma como revela os pontos de contenção e os procedimentos dentro da indústria em questão, mas também porque Kuang consegue soltar pedaços da história e do folclore chineses aqui e ali, desenhando mais uma camada de significado em uma história já de si plena de ponderações.
-"-"-
[EN:]
Sometimes 5-star reviews are misleading. Or at least a bit more finicky than they may seem at first sight. R. F. Kuang’s Yellowface is a case in point.
Kuang seeks to challenge herself: she could have chosen any other character as a protagonist, but she went with the one that, arguably, most directly opposes her own stance. This adds an extra layer to topics such as questions of white/minority authorship in the publishing industry. Short-sided solutions like the establishment of “minority quotes” for publishing amount which, on one side, give rise to the notion of “we already have an Asian/Black/minority author this season and therefore cannot accept any more.” And then the reverse: white voices losing their relevance and acceptance. Both faces of this increasingly complex coin are explored through June’s perspective – a white woman who does the unimaginable: she steals an Asian-American’s story on the night of the latter’s death.
The relationship between the two women – June and Athena – is a masterpiece in nuanced character development. You can say it is mostly hate-based, or driven by envy, which is true, but their relationship is an ongoing discussion on how broken the book industry is nowadays. Yellowface emphasizes the process of editing and marketing – regarded by June as the true driving force behind a book’s success. The translation bit is mentioned as well, only briefly probably because it was Babel’s focus.
It is controversial, to say the least. The story constitutes a poignant critique of the literary industry in its current form. Instead of shying away from matters like elitism, colorism, and minorities, it addresses these issues with the severity they demand, taking them head-on and then exploring their meaning and consequences. I enjoyed it not just because of the industry’s insights and food-for-thought points, but also because Kuang managed to drop bits of Chinese history and folklore here and there, drawing yet another layer of meaning on an already thoughtful story.
Graphic: Deadnaming, Death, Panic attacks/disorders, Racial slurs, Racism, Rape, Sexism, Xenophobia, Grief, Stalking, Cultural appropriation, Gaslighting, Toxic friendship, and Classism
Minor: Suicidal thoughts