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katya_m 's review for:
Vinte e Quatro Horas da Vida de Uma Mulher
by Stefan Zweig
Face às expectativas de uma qualquer sociedade, como se comporta a mulher arrebatada de paixão?
As normas, convenhamos, não coincidem já com as de outrora, todavia, impõe-se que a sociedade restringe em permanência os sentimentos não regidos pela conveniência (seja ela de que espécie for).
Em 24 Horas da Vida de Uma Mulher, com o repentino desaparecimento de uma hóspede, o hotel em peso sai a atacar a mulher que abandona marido e filhos para seguir um homem que é para todos estranho. Face a isto, apenas dois dos convivas tomam o seu partido. Na realidade, a premissa é simples: quando não nos dizem respeito, os sentimentos de outrem são-nos absolutamente dispensáveis - e censuráveis. Todavia, para Mrs. C..., que recorda o seu passado e se identifica com a adúltera, o momento em que nela desperta a paixão que não consegue censurar a Mme Henriette, traduz-se como derradeiro:
"Só se vive semelhante hora uma vez na vida, e isso não acontece se não a uma pessoa em milhões; também eu teria duvidado, sem este terrível acaso, com que força do desespero, com que raiva frenética, pode um homem abandonado, um homem perdido, aspirar uma vez só à ínfima gota escarlate da vida;[...] Nunca teria compreendido a forma grandiosa e fantástica como às vezes a natureza concentra em alguns sopros rápidos tudo o que há em si de cálido e de gélido, de vida e de morte, de êxtase e desespero."
Eventualmente, e como lhe era esperado, frustrada a sua tentativa de independência face às imposições que lhe haviam sido feitas, a mulher apenas pode reconhecer como erro a sua ilusão, compadecendo-se do facto do tempo atenuar todas as máculas, senão perante os outros, perante nós:
"No fundo, envelhecer mais não é que deixar de recear o passado."
Esta incursão ao lado mais primordial e visceral da mulher, muitas vezes apenas permitido, com a mesma simplicidade sem lenitivos, ao homem - e embora até certo ponto construído como desculpável já que Mrs. C...era já viúva quando cede aos instintos - não deixa por isso de ser um interessante desfile de descrições psicológicas muito próprias de Zweig, cujos personagens bem se podem fazer corresponder a muitos leitores.
Pena que o seu fim (de Zweig) não tenha correspondido exatamente às suas máximas:
"Todo o sofrimento é cobarde: recua perante a força de viver que se ancora com tanta firmeza à nossa carne que a ânsia da morte só existe no espírito."
As normas, convenhamos, não coincidem já com as de outrora, todavia, impõe-se que a sociedade restringe em permanência os sentimentos não regidos pela conveniência (seja ela de que espécie for).
Em 24 Horas da Vida de Uma Mulher, com o repentino desaparecimento de uma hóspede, o hotel em peso sai a atacar a mulher que abandona marido e filhos para seguir um homem que é para todos estranho. Face a isto, apenas dois dos convivas tomam o seu partido. Na realidade, a premissa é simples: quando não nos dizem respeito, os sentimentos de outrem são-nos absolutamente dispensáveis - e censuráveis. Todavia, para Mrs. C..., que recorda o seu passado e se identifica com a adúltera, o momento em que nela desperta a paixão que não consegue censurar a Mme Henriette, traduz-se como derradeiro:
"Só se vive semelhante hora uma vez na vida, e isso não acontece se não a uma pessoa em milhões; também eu teria duvidado, sem este terrível acaso, com que força do desespero, com que raiva frenética, pode um homem abandonado, um homem perdido, aspirar uma vez só à ínfima gota escarlate da vida;[...] Nunca teria compreendido a forma grandiosa e fantástica como às vezes a natureza concentra em alguns sopros rápidos tudo o que há em si de cálido e de gélido, de vida e de morte, de êxtase e desespero."
Eventualmente, e como lhe era esperado, frustrada a sua tentativa de independência face às imposições que lhe haviam sido feitas, a mulher apenas pode reconhecer como erro a sua ilusão, compadecendo-se do facto do tempo atenuar todas as máculas, senão perante os outros, perante nós:
"No fundo, envelhecer mais não é que deixar de recear o passado."
Esta incursão ao lado mais primordial e visceral da mulher, muitas vezes apenas permitido, com a mesma simplicidade sem lenitivos, ao homem - e embora até certo ponto construído como desculpável já que Mrs. C...era já viúva quando cede aos instintos - não deixa por isso de ser um interessante desfile de descrições psicológicas muito próprias de Zweig, cujos personagens bem se podem fazer corresponder a muitos leitores.
Pena que o seu fim (de Zweig) não tenha correspondido exatamente às suas máximas:
"Todo o sofrimento é cobarde: recua perante a força de viver que se ancora com tanta firmeza à nossa carne que a ânsia da morte só existe no espírito."