A review by anacatnascimento
Sister Outsider: Essays and Speeches by Audre Lorde

4.0

Na minha demanda por ler mais own voices e mais autores BAME e queer, o nome Audre Lorde aparecia vezes e vezes sem conta, sendo Sister Outsider um dos livros mais recomendados, para além das obras de poesia da autora. Ora, eu como de poesia não sou grande fã, fiquei-me por um dos poucos exemplos de prosa de Lorde, escritos na década de 70 e 80.

Dizer que este livro é um abre-olhos é pouco. É, provavelmente, o livro que mais sublinhei nos últimos tempos, e que mais passagens me fizeram parar, pensar e ligar os pontos da minha própria vida. Lorde mostra-nos facetas do feminismo, da cultura queer e negra e do racismo que nos chocam mas educam, faz reflexões sobre o eu e a razão de ser dignas de deixar até o filósofo mais cético espantado, dissecta o que é a poesia, o erótico, as palavras e tantas outras coisas sobre as quais eu nunca tinha sequer pensado - tudo isto ancorado numa premissa que parece uma coisa banal, mas não é: ser negro nos EUA.

Apesar de estar fragmentado ora em ensaios, ora em discursos, Sister Outsider é (ou deveria ser) uma bíblia para pessoas de todas as cores. A dor, ressentimento e medo, mas também a resiliência, espírito de sobrevivência e criatividade, são palpáveis a cada página que voltamos, e dão-nos uma ideia do que é nascer, crescer e viver rodeados de ódio, preconceito e uma adaptação constante às circunstâncias. Durante toda a leitura, senti que Lorde me contava que a sua vida, e a vida de tantas outras pessoas de cor, foi (e é) uma corrente interminável de situações atrás de situações em que só haviam duas opções: nadar ou morrer - ou, no caso da poeta, escrever ou morrer. Aquela sensação de impending doom nunca me deixou durante toda a leitura, porque aquilo que Lorde escrevia nos anos 70 ainda é verdade hoje. As suas palavras ainda são relevantes e, no entanto, pouco ou nada mudou.

Uma leitura essencial para quem quer aprender mais e, acima de tudo, compreender o racismo sistémico e institucionalizado e como o combater e gerar mudança - primeiro em si mesmo, e depois no mundo.

"Not to believe that revolution is a one-time event, or something that happens around us rather than inside of us"