A review by anacatnascimento
Black Leopard, Red Wolf by Marlon James

1.0

600+ páginas depois e nem sei o que dizer. Com exceção de Catcher in the Rye, diferente em todos os sentidos desta primeira tentativa de Marlon James no magic realism, nunca um livro me tinha tirado tanto do sério do princípio ao fim.

First things first: as menções bastante gráficas a violação, canibalismo, bestialidade e violência eram escusadas. Percebo que algumas sejam necessárias para ilustrar e criticar os mitos, lendas, deuses, culturas e sociedades africanas, mas ler sobre
Spoileruma hiena mágica a violar um humano
não acrescentou nada à história, não me chocou pela positiva e não me fez querer ler mais, muito pelo contrário: voltei a cara em nojo e disse a mim mesma que se surgisse mais alguma referência do género, pararia de ler. Acho que era perfeitamente possível contar uma história bizarra, cruel e chocante (e um bom exemplo são livros sobre histórias reais do Holocausto, Elie Wiesel sendo um dos autores que me deixou completamente em choque e de coração partido), prestando ainda a devida homenagem a África, sem precisar de passar por esta escrita vulgar e obscena, que até os leitores menos púdicos iam achar demais.

Second: neste primeiro volume, conhecemos a história através de Tracker, que a está a contar a um Inquisitor - quem é este Inquisitor, o porquê do interrogatório ou a sua relevância são questões que ficam por responder. A certo ponto, Tracker diz algo que, mais tarde, percebi que resume este looongooo livro na perfeição:
Spoiler“The child is dead. There is nothing left to know.”
. E não há. A não ser que queiram descobrir um dos livros mais pretensiosos de sempre, em que o autor usa arabescos literários para dizer coisas simples, ou tenta fazer suspense em dada ocasião para o leitor trabalhar para obter a resposta e, no final de contas, não há substância - nem resposta.

Até chegarmos a um ponto do livro em que a história avança para algo concreto, já passámos por 400 páginas cheias de sexo, uma lista infindável de deuses e monstros, histórias dentro de histórias, frases em línguas africanas sem qualquer tradução e francamente, uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma. Só nas últimas 200 páginas a ação ganha uma velocidade estonteante e, de repente, levamos com a informação toda - muita ali colocada a martelo - e percebemos (mas será mesmo que percebemos, ou melhor, que aquilo que nos foi contado faz sentido?) qual é o papel de cada personagem na trama toda - e qual é, afinal de contas, a trama em si.

Não sei se vou conseguir recuperar as semanas que eu passei a tentar sobreviver - e sim, esta é a palavra certa - a este livro sem mazelas permanentes.