A review by soniateles
Eliete by Dulce Maria Cardoso

4.0

Dulce Maria Cardoso não tem muitos livros publicados em comparação com outros escritores portugueses o que transforma cada obra sua numa preciosidade. Não que eu seja uma especialista já que este é, apenas, o segundo livro que leio dela para além das crónicas da Visão. No ano passado, li "O Retorno".
Outra curiosidade é o facto de ter escolhido este livro depois de ter lido este uma vez que, ambos os autores, utilizam a figura histórica de Oliveira Salazar como personagem de ficção.
"Eliete" é a história de uma mulher de 40/50 anos que se vê confrontada com o passar do tempo que lhe traz uma série de problemas como o envelhecimento e a deterioração da sua avó, uma das figuras mais importantes da sua vida. O livro começa num hospital, exactamente porque a sua avó sofre um acidente decorrente da deterioração da sua mente. Esse acontecimento vai despoletar em Eliete uma espécie de análise da sua vida, de quem ela se tornou e de quem ela queria ter sido. Regressamos com ela à sua infância, à adolescência e início da vida adulta. Todos esses pensamentos fazem com que Eliete comece a questionar tudo aquilo que se julgava garantido como o seu casamento, por exemplo.

Dulce Maria Cardoso aborda alguns assuntos muito interessantes como o envelhecimento e o apoio social aos idosos, a doença de Alzheimer ou a influência da internet e das redes sociais na nossa vida e na maneira como nos relacionamos com os outros mesmo com aqueles com quem vivemos. O subtítulo diz tudo, este é um livro sobre a vida normal porque a história de Eliete podia ser a história de qualquer mulher de meia-idade* mas contada de forma magistral como a autora tão bem sabe fazer.

A escrita de Dulce Maria Cardoso é tão cativante mas, ao mesmo tempo, sem grandes complicações o que faz com que a obra se leia com muita facilidade.

Este livro é a primeira parte mas a autora pretende que a história tenha continuação. Infelizmente, algumas circunstâncias da sua vida pessoal têm dificultado o desenvolvimento da história. Espero que  Dulce Maria Cardoso consiga desenvolver o que falta contar desta história porque eu já tenho saudades da Eliete.