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martimzanatti 's review for:
Grandes Esperanças
by Charles Dickens
Charles Dickens teve que trabalhar aos 12 anos numa fábrica de sapatos de modo a pagar as dividas do pai que fora preso. Este facto moldara-lhe o espírito completamente e viria a definir os temas principais presentes nas suas obras. Teve um contanto direto com as injustiças socias presentes na altura e que vigoram até hoje. Seu pai, John Dickens, acabou por herdar dinheiro de familia e conseguiu pagar as dividas na totalidade.
Dois pensamentos haviam surgido como consequência deste ano de trabalho e do aprisionamento do pai. O primeiro é que nem toda a gente tem a sorte de herdar dinheiro e conseguir, assim, sair da prisão. O segundo é que a prisão, a precariedade e o desespero não atingem somente as pessoas de má índole.
*spoiler alert*
As «Grandes Esperanças» retrata a história de Pip, um rapaz orfão, de classe baixa, que vive com a irmã e o marido, Joe, numa zona rural de Inglaterra. Pip apresenta-te, acima de tudo, como um rapaz extremamente submisso e medroso. Esta personalidade de Pip espelha-se no decorrer da história e parece-me ter sido desenvolvida por três factores. O primeiro factor deve-se à educação extramamente rígida dirigida pela irmã, onde o medo é a constante que sempre está presente em todos os momentos. O segundo factor deve-se às relações (nem se pode dizer de amizade) que a irmã mantém com outros habitantes da aldeia. Aí, durante as convivencias, Pip é tratado como um indesejado. Estes dizem-lhe inúmeras vezes que devia estar agradecido pela irmã o ter educado convenientemente. Suponho que Pip nunca percebeu o que queria isto dizer. Por último, o acontecimento que lhe mudaria a vida: o encontro com o prisioneiro.
Neste encontro, Pip depara-se com um prisioneiro fugitivo que lhe pede comida. Pip atende a este pedido e rouba comida da própria casa não obstante o medo de morte que nutre pela irmã.
Contudo, duas personagens apaziguam este ambiente depressivo em que Pip vive. Estas são Joe, o seu melhor amigo, e Biddy. Duas personagens que representam as noções mais fulcrais do livro, a noção de amor, de amizade e de simplicidade.
Neste livro, Pip é confrontado com duas ilusões pelas quais segue cegamente. Na verdade, Pip apresenta-se como uma marioneta, onde é controlado por forças maiores. A primeira ilusão acontece quando frequenta a casa de miss Havisham, uma senhora intemporal, rica, que tem uma filha adoptiva pela qual Pip se apaixona perdidamente. Contudo, miss Havisham devido a um desgosto de amor, cria a sua filha para que ela faça sofrer os homens. Este amor, é, logo à partida, impossível. A ilusão, no entanto, prelonga-se pelos anos seguintes, num sofrimento atroz e masoquista.
A segunda ilusão advém da primeira. Para agradar a Estella, Pip sonha em subir na vida, em tornar-se um gentleman e conviver com outros de tão alta educação. Tudo o que até então apreciava, a vida pacata, a amizade com Joe, deixa de fazer sentido e torna-se em algo pelo qual ele tem vergonha. Um benfeitor anonimo aparece e ele é conduzido para Londres para se educar e transformar-se numa pessoa fina. Ao longo da sua estadia em Londres, estas duas ilusões começam a cair por terra. Quanto à primeira, ele apercebe-se que nunca poderá ter nada com Estella, e que tanto miss Havisham como Estella, nao fizeram mais que brincar com os sentimentos dele.
Quanto à segunda ilusão, ele descobre que o dinheiro que obteve vem de um criminoso e fica horrorizado e enojado pelo seu benfeitor.
No fim, há a parte da rendição. Primeiro Pip aprecebe-se do quão ingrato foi para Joe e Biddy, abandonou-os, desprezou-os. Também acabou por se afeiçoar pelo fugitivo e tentou salvá-lo a todo o custo.
Esta história tem um sabor ácido, um quê de pessimismo em relação à vida. Apercebemo-nos que o caminho que Pip percorreu teve um custo grande e irrecuperável. Ao longo da história Pip desejava, no fundo da sua alma, nunca ter ido a casa de miss Havisham, nem tão pouco ter recebido tão grandes esperanças. Tudo o que ele pretendia sempre esteve presente. Numa forma diferente, é verdade. Tão mais simples, mas mais verdadeira. Partilhada com pessoas (que se podem chamar rudes) mas que no fundo são muito mais profundas, humanas, que tantas outras que ele foi conhecendo ao longo da vida.
Dois pensamentos haviam surgido como consequência deste ano de trabalho e do aprisionamento do pai. O primeiro é que nem toda a gente tem a sorte de herdar dinheiro e conseguir, assim, sair da prisão. O segundo é que a prisão, a precariedade e o desespero não atingem somente as pessoas de má índole.
*spoiler alert*
As «Grandes Esperanças» retrata a história de Pip, um rapaz orfão, de classe baixa, que vive com a irmã e o marido, Joe, numa zona rural de Inglaterra. Pip apresenta-te, acima de tudo, como um rapaz extremamente submisso e medroso. Esta personalidade de Pip espelha-se no decorrer da história e parece-me ter sido desenvolvida por três factores. O primeiro factor deve-se à educação extramamente rígida dirigida pela irmã, onde o medo é a constante que sempre está presente em todos os momentos. O segundo factor deve-se às relações (nem se pode dizer de amizade) que a irmã mantém com outros habitantes da aldeia. Aí, durante as convivencias, Pip é tratado como um indesejado. Estes dizem-lhe inúmeras vezes que devia estar agradecido pela irmã o ter educado convenientemente. Suponho que Pip nunca percebeu o que queria isto dizer. Por último, o acontecimento que lhe mudaria a vida: o encontro com o prisioneiro.
Neste encontro, Pip depara-se com um prisioneiro fugitivo que lhe pede comida. Pip atende a este pedido e rouba comida da própria casa não obstante o medo de morte que nutre pela irmã.
Contudo, duas personagens apaziguam este ambiente depressivo em que Pip vive. Estas são Joe, o seu melhor amigo, e Biddy. Duas personagens que representam as noções mais fulcrais do livro, a noção de amor, de amizade e de simplicidade.
Neste livro, Pip é confrontado com duas ilusões pelas quais segue cegamente. Na verdade, Pip apresenta-se como uma marioneta, onde é controlado por forças maiores. A primeira ilusão acontece quando frequenta a casa de miss Havisham, uma senhora intemporal, rica, que tem uma filha adoptiva pela qual Pip se apaixona perdidamente. Contudo, miss Havisham devido a um desgosto de amor, cria a sua filha para que ela faça sofrer os homens. Este amor, é, logo à partida, impossível. A ilusão, no entanto, prelonga-se pelos anos seguintes, num sofrimento atroz e masoquista.
A segunda ilusão advém da primeira. Para agradar a Estella, Pip sonha em subir na vida, em tornar-se um gentleman e conviver com outros de tão alta educação. Tudo o que até então apreciava, a vida pacata, a amizade com Joe, deixa de fazer sentido e torna-se em algo pelo qual ele tem vergonha. Um benfeitor anonimo aparece e ele é conduzido para Londres para se educar e transformar-se numa pessoa fina. Ao longo da sua estadia em Londres, estas duas ilusões começam a cair por terra. Quanto à primeira, ele apercebe-se que nunca poderá ter nada com Estella, e que tanto miss Havisham como Estella, nao fizeram mais que brincar com os sentimentos dele.
Quanto à segunda ilusão, ele descobre que o dinheiro que obteve vem de um criminoso e fica horrorizado e enojado pelo seu benfeitor.
No fim, há a parte da rendição. Primeiro Pip aprecebe-se do quão ingrato foi para Joe e Biddy, abandonou-os, desprezou-os. Também acabou por se afeiçoar pelo fugitivo e tentou salvá-lo a todo o custo.
Esta história tem um sabor ácido, um quê de pessimismo em relação à vida. Apercebemo-nos que o caminho que Pip percorreu teve um custo grande e irrecuperável. Ao longo da história Pip desejava, no fundo da sua alma, nunca ter ido a casa de miss Havisham, nem tão pouco ter recebido tão grandes esperanças. Tudo o que ele pretendia sempre esteve presente. Numa forma diferente, é verdade. Tão mais simples, mas mais verdadeira. Partilhada com pessoas (que se podem chamar rudes) mas que no fundo são muito mais profundas, humanas, que tantas outras que ele foi conhecendo ao longo da vida.