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A review by mikesparrow
Os Cadernos de Dom Rigoberto by Mario Vargas Llosa

4.0

"Estes últimos, estas últimas, deviam inclusivamente morrer, pois desconfio que as suas vidas são supérfluas."

"«(…) presta plástico tributo a esse desdenhado membro do corpo feminino, mostrando uma ninfa entregue à amorosa tarefa de lavar - ou melhor, acariciar - com uma esponja o pé de Diana, enquanto outra ninfa, em doce abandono, acaricia o seu. Tudo é subtil e carnal, de uma delicada sensualidade que dissimula a perfeição das formas e a suavíssima bruma que banha a cena, dotando as figuras dessa qualidade irrealizada e mágica que tens tu, Lucrecia, todas as noites em carne e osso, e também o teu fantasma, quando visitas os meus sonho». Que certo, que actual, que vigente."

"Como aquele que Dom Rigoberto tinha visto no anúncio da Time e que lhe havia recordado os de Lucrécia, e que o tinha aqui, surpreendido pelas primeiras luzes da manhã, a enviar à sua amada esta garrafa que lançaria ao mar, em sua busca, sabendo muito bem que não chegaria, pois como poderia chegar-lhe o que não existia, o que era forjado com o evanescente pincel dos seus sonhos?"

"Escutavam o seu relato? Aparentemente, sim, pois tanto Dom Rigoberto como Dona Lucrecia se achavam imóveis e pareciam ter perdido não só o movimento, como também a respiração. Tinham os olhos cravados no menino e, ao longo da sua história, recitada sem hesitações, com pausas e ênfases de bom contador, ninguém pestanejou. Mas… e a palidez que revelavam? E aqueles olhares concentrados e absortos? Comovia-os assim tanto aquela antiga anedota, daquele longínquo pintor? Eram essas as perguntas que Dom Rigoberto julgava ler nos grandes olhos vivaços de Fonchito que, agora, examinavam um e outro, com calma, como quem esperasse um comentário. Ria-se deles? Ria-se dele? Dom Rigoberto fixou a vista nos olhos claros e translúcidos do filho, procurando o brilho malévolo, aquele piscar ou inflexão de luminosidade que denunciasse o seu maquiavelismo, a sua estratégia, a sua hipocrisia. Não descobriu nada: apenas o olhar são, claro e puro da consciência inocente."