A review by stephmostav
Clouds by Aristophanes

3.0

Já estou familiarizada com tragédias gregas, mas esta foi minha primeira experiência com comédia e gostei bastante do resultado. O humor é bem mais honesto do que eu esperava e chegou a me arrancar gargalhadas várias vezes. E, ainda assim, isso não impede o texto de ser bastante político, pois o gênero da comédia sempre teve conexão com a democracia e a discussão a respeito das instituições. Aristófanes deixa bem evidente seu repúdio pela guerra e pela forma como a cidade conduzia sua política e critica várias figuras influentes da época, enquanto seus protagonistas são sempre personagens marginalizados da sociedade. O alvo da crítica desta vez é um tipo de intelectual, os sofistas, que propõe ensinar o protagonista a defender qualquer tese, seja ela justa ou não, além de relativizar conhecimentos herdados do passado e questionar os deuses. Como Strepsiades deve bastante dinheiro devido aos gastos do filho, decide aprender o raciocínio injusto para livrar-se dos credores. Porém, Strepsiades não consegue acompanhar os ensinamentos e acaba persuadindo o próprio filho, Filipides, a enganar aqueles que deve, deixando-o nas mãos dos charlatões pretensiosos. Enfim chega a melhor cena da peça: o combate intelectual entre o Raciocínio Justo e o Raciocínio Injusto, cada um tentando provar a Filipides que seu posicionamento é melhor. O Justo defende a disciplina, a ética e os valores tradicionais, enquanto o Injusto acredita que a ética nada vale diante dos interesses e dos lucros. Ao contrário das demais peças do gênero, em As Nuvens o herói trapaceiro não triunfa no final, lidando com as consequências de deixar o filho ser influenciado pelo Raciocínio Injusto e ele não mais o respeita nem o auxilia. Mesmo assim, o final não deixa de ser hilário e a última cena do Pensatório sendo tomado pelas chamas enquanto todos se desesperam é maravilhosa para quem adora um barraco.