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luangabs 's review for:
O Grande Caderno
by Ágota Kristóf
O que é a guerra senão a naturalização da barbárie?
To tentando organizar aqui os pensamentos pra fazer um texto inteligível kkkkk, mas na real eu achei esse livro muito bem amarrado no conceito, na forma e no conteúdo. Tudo faz sentido junto e você entende o porque das coisas serem assim, dos personagens serem assim e do porque a historia é contada assim.
Quando eu vi que a autora era húngara e que se passava num periodo de guerra, minha cabeca juntou logo uns pedaços de filme do leste europeu que tem essa temática. Filmes super sóbrios, sem cores, sem paisagens bonitas, sempre mostrando ruínas e degradação e um clima frio aterrador. Casou muito bem com o livro… E existe mais um aspecto do cinema leste europeu que casou ainda mais: a estranheza, o limiar do nonsense e do que é suportável.
Pra mim a leitura foi exatamente assim. A gente tinha descrições horrorosas e nojentas dos ambientes, não tem aspecto de beleza expresso em momento algum. O frio incomoda tanto quanto a guerra e é um mecanismo ali de busca por sobrevivência. E obviamente a esquisitisse e o bizarro são uma grande presença por todo o livro. Tudo é impessoal, sóbrio demais, seco, direto ao ponto, não existe nada subjetivo ou idealizado.
Por esses motivos, achei genial essa escolha da narração em primeira pessoa do plural, porque reforça essa perda da individualidade e da subjetividade. O fato dos personagens não nomearem nada, nem locais, nem pessoas, reforça essa ideia de não dar importancia subjetiva ou sentimentos a elas. Inclusive é algo que eles mencionam naquela passagem: eles não podem dizer que a avó parece uma bruxa, isso seria subjetivo, seria uma opinião deles, mas eles escrevem que as pessoas chamam a avó de bruxa, porque era simplesmente um fato.
Então o livro acaba sendo essa narração sequencial de fatos completamente isenta da pessoalidade dos narradores, que me despertou muita curiosidade, ao mesmo tempo que reforçou a propria personalidade deles ao encararem aquelas situações que presenciavam. E aqui realmente da pra gente supor o transtorno de personalidade das criancas, uma psicopatia mesmo, ao mesmo tempo que passa a mensagem de naturalização e normalização de todos os absurdos hediondos que a guerra causa pras pessoas.
Ao mencionarem a guerra eles destacam, os homens criam as guerras pra serem taxados de heróis. Morreu? Heroi. Sobreviveu mutilado e destruido? Heroi. E pras outras frações da sociedade sobram os verdadeiros espolios da guerra: a fome, a violencia, o estupro, a morte.
Quando falaram do caderno e de como eles faziam pra corrigir o texto, eu senti um pouco de metalinguagem ali. É como se os capitulos que lemos fossem os textos que os gemeos decidiram deixar no caderno, o que casa com todas essas regras que eles se impuseram, de serem factuais, impessoais e sem sentimentos.
Então tem muitas lacunas ali que me deram super vontade de continuar na trilogia. Entender o porque fizeram aquilo com o pai e porque a decisão de se separarem foi tomada.
Esse livro me lembrou muito da primeira parte de torto arado, posso ta ate viajando kkkkk, mas essa unificação da personalidade dos gemeos super me fazia lembrar da confusão que foi pra gnt identificar quem era belonisia e bibiana na primeira parte (sem querer dar spoilers de torto arado aqui).
Enfim, to me sentindo meio doido de ter gostado tanto desse livro cheio de coisa nojenta, absurda, e perturbadoras. Mas eu sou gente boa, juro!!
To tentando organizar aqui os pensamentos pra fazer um texto inteligível kkkkk, mas na real eu achei esse livro muito bem amarrado no conceito, na forma e no conteúdo. Tudo faz sentido junto e você entende o porque das coisas serem assim, dos personagens serem assim e do porque a historia é contada assim.
Quando eu vi que a autora era húngara e que se passava num periodo de guerra, minha cabeca juntou logo uns pedaços de filme do leste europeu que tem essa temática. Filmes super sóbrios, sem cores, sem paisagens bonitas, sempre mostrando ruínas e degradação e um clima frio aterrador. Casou muito bem com o livro… E existe mais um aspecto do cinema leste europeu que casou ainda mais: a estranheza, o limiar do nonsense e do que é suportável.
Pra mim a leitura foi exatamente assim. A gente tinha descrições horrorosas e nojentas dos ambientes, não tem aspecto de beleza expresso em momento algum. O frio incomoda tanto quanto a guerra e é um mecanismo ali de busca por sobrevivência. E obviamente a esquisitisse e o bizarro são uma grande presença por todo o livro. Tudo é impessoal, sóbrio demais, seco, direto ao ponto, não existe nada subjetivo ou idealizado.
Por esses motivos, achei genial essa escolha da narração em primeira pessoa do plural, porque reforça essa perda da individualidade e da subjetividade. O fato dos personagens não nomearem nada, nem locais, nem pessoas, reforça essa ideia de não dar importancia subjetiva ou sentimentos a elas. Inclusive é algo que eles mencionam naquela passagem: eles não podem dizer que a avó parece uma bruxa, isso seria subjetivo, seria uma opinião deles, mas eles escrevem que as pessoas chamam a avó de bruxa, porque era simplesmente um fato.
Então o livro acaba sendo essa narração sequencial de fatos completamente isenta da pessoalidade dos narradores, que me despertou muita curiosidade, ao mesmo tempo que reforçou a propria personalidade deles ao encararem aquelas situações que presenciavam. E aqui realmente da pra gente supor o transtorno de personalidade das criancas, uma psicopatia mesmo, ao mesmo tempo que passa a mensagem de naturalização e normalização de todos os absurdos hediondos que a guerra causa pras pessoas.
Ao mencionarem a guerra eles destacam, os homens criam as guerras pra serem taxados de heróis. Morreu? Heroi. Sobreviveu mutilado e destruido? Heroi. E pras outras frações da sociedade sobram os verdadeiros espolios da guerra: a fome, a violencia, o estupro, a morte.
Quando falaram do caderno e de como eles faziam pra corrigir o texto, eu senti um pouco de metalinguagem ali. É como se os capitulos que lemos fossem os textos que os gemeos decidiram deixar no caderno, o que casa com todas essas regras que eles se impuseram, de serem factuais, impessoais e sem sentimentos.
Então tem muitas lacunas ali que me deram super vontade de continuar na trilogia. Entender o porque fizeram aquilo com o pai e porque a decisão de se separarem foi tomada.
Esse livro me lembrou muito da primeira parte de torto arado, posso ta ate viajando kkkkk, mas essa unificação da personalidade dos gemeos super me fazia lembrar da confusão que foi pra gnt identificar quem era belonisia e bibiana na primeira parte (sem querer dar spoilers de torto arado aqui).
Enfim, to me sentindo meio doido de ter gostado tanto desse livro cheio de coisa nojenta, absurda, e perturbadoras. Mas eu sou gente boa, juro!!