A review by literary_waffle
Uma Pequena Vida by Hanya Yanagihara

dark emotional reflective sad medium-paced
  • Plot- or character-driven? Character
  • Strong character development? It's complicated
  • Loveable characters? It's complicated
  • Diverse cast of characters? Yes
  • Flaws of characters a main focus? Yes

4.25



A narrativa gira em torno de Jude, um dos 4 amigos cujas vidas acompanhamos ao longo do livro. Jude é-nos apresentado como alguém extremamente frágil e traumatizado, com um passado chocante, repleto de abusos de todo o tipo. A sua história é revelada aos poucos, ficando cada vez pior, dando ao leitor um sentimento de "desconfortabilidade" crescente. Além de Jude, acomapanhamos Willem, o seu melhor amigo de décadas e futuro companheiro romântico, que se torna um ator de grande sucesso e é sempre o apoio de Jude, até à sua morte.

É um livro de suscitou empatia da minha parte e conseguiu, de certa forma, abordar a questão de breviedade da vida e da importância das relações com os outros, sendo, desta forma, uma narrativa que força a reflexão sobre nós mesmos e consegue com que olhemos para a nossa própria forma de viver e reavaliemos o que temos e o que podemos fazer melhor, nomeadamente, em relação aos outros. No entanto, tem determinados pontos negativos que não consigo ignorar:

1. A vida de Jude, repleta de tortura, torna-se, a certo ponto, algo irreal, que dificilmente aconteceria. Claro que sendo uma obra de ficção é natural que possa ser exagerada de alguma forma mas esse não é de todo o teor do livro. Na minha perspetiva, a narrativa tenta sempre fazer tudo parecer real e visceral. No entanto, é altamente improvável que alguém sofra continuamente abusos, em locais diferentes, com pessoas diferentes e tenha uma vida de sofrimento constante, como Jude teve. Pesoalmente comecei a ficar com a sensação, a determinado ponto, que a autora tentou induzir empatia ao leitor forçosamente, escrevendo constantemente sobre episódios de tortura e auto-mutilação de forma gráfica e desnecessariamente longa, quase como se tentasse criar uma empatia "fabricada".

2.
Quando Jude e Willem se tornam um casal, o comportamento de Willem é totalmente fora do que seria de esperar do personagem. Willem sempre protegeu Jude e quis o melhor para ele, sempre estiveram juntos e tinham uma amizade especial que era apenas entre eles os dois, completamente diferente da amizade com Malcolm e JB. Willem nunca teve nenhuma atitude de mau caráter para com Jude antes de serem um casal mas, quando ficam juntos, Willem subitamente começa a ignorar os problemas de Jude com as relações sexuais  e não parece querer saber se Jude está desconfortável ou não. Certo que Jude sempre disse que não estava desconfortável mas Willem sabe, ele próprio o diz, que Jude se auto-mutila porque ter relações sexuais para ele é um sacrifício que tem que fazer para o bem da relação. E, mesmo tendo consciência disto, Willem não põe fim à vida sexual dos dois, apenas ignora porque Jude não o disse explicitamente (mais uma vez, Willem sabe que Jude dificilmente fala sobre o seu passado ou as suas dores de forma explícita).



Apesar destes pontos negativos, é um livro muito bem escrito, de leitura fluida e relativamente fácil. É importante mencionar que aborda questões muito sensíveis que podem ser um gatilho e que o próprio Jude e a forma como ele se vê e vê a sua vida (cap. Axioma da Igualdade, isto é, acreditar que porque tenho um mau passado e  fui determinada pessoa, o vou ser para sempre e é algo que não posso mudar porque é uma lei da vida) podem também fazer surgir sentimentos menos bons se o leitor não estiver bem psicologicamente ou se não tiver um pensamento crítico o suficiente para perceber que Jude apenas pensava dessa forma porque era uma pessoa traumatizada e fragilizada..  




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