A review by pjv1013
A Idade da Pele by Rita Costa, Dubravka Ugrešić

4.0

Um conjunto de ensaios desencantados, azedos e críticos da contemporaneidade. Um conjunto de textos instigadores de uma reflexão cada vez mais necessária. Um bom conjunto de aprendizagens sobre os Balcãs, os países da ex Jugoslávia.

Dubravka Ugrešic, neste livro recentemente publicado em Portugal - tradução de Rita Costa - , entitulado "A idade da pele" provoca no leitor o incómodo de como olhar criticamente para o mundo de hoje sem cinicamente nos enfiarmos numa crítica sem fim.

Temáticas como a misoginia, os direitoa sociais e humanos, o trabalho, os refugiados são presenças em diferentes textos. Também a crítica aos mundos da arte, da literatura e da academia está presente em textos como "A idade da pele" ou "L'écriture masculine".

Interessantes as referências a Bohumil Hrabal que, assumo me encantaram. Deixem por isso partlhar convosco a frase final do livro de Dubravka Ugrešic sobre a necessidade de preservar a memória e de a escavar continuamente:
"Nos trinta e cinco anos em que trabalha - Hanta, o protagonista de "uma solidão demasiada ruidosa" - cercado por livros, que são como seres vivos para ele, vive numa "solidão demasiada ruidosa", faz o trabalho de "açougueiro terno" e, como"o céu não é humano", encontra consolo na "compaixão e no amor". Em suma "os manuscritos não estão a arder". Hoje os filhos de hanta são os "arqueólogos" em ascensão, os coleccionadores, os navegadores, os cartógrafos dos mapas de memória, os historiadores, os artistas, os exploradores, os coleccionadores de lembranças, aqueles que reparam os danos, os construtores e reconstrutores, os justos que trabalham com o "lixo" histórico, os educadores, os protectores da verdade, os curadores de museus virtuais, a equipa que trabalha em laboratórios da memória... Graças aos filhos de Hanta, os manuscritosnão ardem. E, quando são lançados na fogueira" os livros mostram o "sorriso silencioso" da resistência."