A review by celestecorrea
A Vergonha by Annie Ernaux

«A Vergonha» (1997)

«Sempre tive vontade de escrever livros sobre os quais, depois, me fosse impossível falar, que transformem o olhar do outro em algo de insustentável. Mas que vergonha me poderia trazer a escrita de um livro que estivesse à altura daquilo por que tinha passado aos doze anos?»

Não posso pôr em dúvida tudo o que a autora sentiu mas fico constrangida em escrever uma opinião sobre um livro que aborda vergonha social, a existência de dois mundos, a pertença ao que se situava abaixo e principalmente aquele dia domingo de 1952 em que o pai quis matar a mãe.

Em 1997, Annie Ernaux já nada tem comum com a menina de 12 anos, a não ser aquela cena do domingo de junho de 1952.

Um estudo sociológico de uma França de pequenos comerciantes que falam um mau francês cujo objectivo geral, o ideal a atingir era ser como toda a gente da pequena localidade. «Se não, que vão pensar de nós?». A vergonha repetida e acumulada, a pertença a uma classe perante a qual a escola privada manifestava apenas ignorância e desdém. As ofensas e desprezo suportados por uma jovem que sabia o que a separava das classes sociais superiores, mas não sabia o que poderia fazer para se parecer com elas. Era impossível escapar à vergonha.

«Estudo de defesa, a boa educação era inútil entre marido e mulher, pais e filhos, sentida mesmo como hipocrisia ou malvadez. A indelicadeza, a quezília e a gritaria constituíam as formas normais de comunicação familiar.»

Quão árdua era (e é) a ascensão social. Reconheço o valor daqueles que pela educação, dedicação e esforço no trabalho o conseguem e condeno quem mordazmente os critica.