A review by andrepithon
Beauty Is a Wound by Eka Kurniawan

3.0

Bingo de Fantasia e Sci-fi 2023

Publicado nos anos 00's
Modo difícil: Não no top 30 da lista melhor de 2023 do Reddit

Eu gosto de histórias tristes, em que vemos alguém fazendo merda, tropeçando de catástrofe para catástrofe, com obrigatórios interlúdios felizes, mas é a melancolia que me alimenta a alma. Em "A beleza é uma ferida", acompanha-se toda uma família, através de três-quatro gerações na Indonésia, passando pela segunda guerra, revoluções comunistas, tragédia atrás de tragédia. Mas a diluição de personagens (basicamente cada capítulo de 20~30 páginas muda a história focal) e o exagero do trágico torna tudo rotineiro.

Quando tudo é triste e horrendo, a tristeza e o horrendo perdem a força. E talvez esse seja o objetivo, ganhar pelo cansaço, mas nunca realmente ganha. Os aspectos mitológicos ficam escondidos, aparecendo de tempos em tempos, mas nos cantos. A força histórica da narrativa se esconde em metáforas, alguns personagens servindo de símbolos para governos específicos e correntes ideológicas. Para quem é familiarizado com a história da Indonésia, certamente há mais para se desprender das metafóras-personagens.

É um livro pesado, com excessiva e normalizada violência sexual, um dos temas mais presentes do livro, e existentes não apenas como o ato em si, mas como uma representação do colonialismo e da exploração, holandeses e japoneses "estuprando" a terra para clamar toda sua beleza e vitalidade para si. É uma leitura propositalmente desconfortável, mas que mesmo com isso em mente parece as vezes se perder em descrições sexuais e do corpo feminino, gratuito. Certos momentos caem mal, não pelo motivo que deveriam cair mal.

Ainda assim, os colapsos de ideologias/governos em personagens são interessantes, o observar duma cultura distinta, escrita por um autor local, é interessante. A prosa por vezes é bonita, o primeiro parágrafo especificamente sendo simples e poderoso.

No final, tudo que esse molhar dos pés no realismo mágico fez foi me incentivar a mergulhar no grande clássico do romance geracional em que coisas meio mágicas acontecem, 100 anos de solidão. Logo vem.