A review by leonorbagulho
O Marinheiro Que Perdeu as Graças do Mar by Carlos Leite, Yukio Mishima

4.0


Não me foi possível ler esta obra e apreciá-la sem fazer ligação à vida do autor. Foi uma leitura desafiante mas com alegorias de que gosto.

Yukio Mishima, pseudónimo de Kimitake Hiraoka, era defensor do Japão tradicional e tentava contrariar a ocidentalização que o seu país sofreu após a derrota na II Guerra Mundial.

Neste livro existe um triângulo de personagens: Fusako, viúva e mãe de Noburo, que simboliza o Ocidente; Noburo, o filho de 13 anos, orfão de pai, com grande amor pelo mar e muito revoltado (também Mishima teve problemas com o pai) e Ryuji, o marinheiro que foi para o mar, não porque gostasse mas para fugir de terra. Sonhava com uma morte gloriosa.

Noburo descobre um buraco na parede do seu quarto e a sua curiosidade leva-o a espiar a sua mãe ou seja o Japão, com curiosidade em espreitar o Ocidente. Temos um livro cheio de escuridão mas com pormenores como este buraco por onde entra alguma luz.

Noburo pertencia a um grupo de rapazes com tendências sociopatas que não se tratavam pelo nome tendo-lhes sido atribuído um número a cada um. Os encontros entre eles tinham como principal enfoque o treino de desapego emocional e actos de violência. Houve mesmo um dos actos que considerei extremamente macabro e não li.

A escrita de Mishima, tão maravilhosa, por vezes poética, aliada à dureza e crueldade da história, consegue passar a mensagem do autor de forma marcante.

Mishima fez uma tentativa de invasão numa base militar em Tóquio. Acabou por se suicidar em público dentro dos padrões de ancestralidade japoneses praticando o seppuku.

Este livro, com tanto de belo como de perturbador, foi publicado 7 anos antes da sua morte.