A review by rltinha
Em tudo havia beleza by Vasco Gato, Manuel Vilas

2.0

Mal cheguei à página 45 percebi que as possibilidades de não adorar o livro eram mesmo muitas. O fascínio com a realeza raras vezes não denuncia possidonia e/ou patetice alegre. A partir daqui os aforismos «Revista Xis» começaram a bulir-me mais com a paciência e a minha boa vontade foi fazer companhia ao investimento público no SNS após a pandemia ter terminado por decreto.
Ora, este livro vive disso: de aforismos «Revista Xis» feitos plenitude reflexiva numa meia idade que, a propósito de homenagear um passado familiar, o revisiona. (As memórias familiares raramente são relatos dignos de credibilidade inquestionada.)
Talvez seja cinismo leitor, mas onde uns vêem doçura e paz interior, outros poderão ver uma reescrita da realidade à luz de uma falsa humildade e da culpa subjacente a tantos pequenos episódios narrados entre o encanto com luzes, construções modernas e outros deslumbramentos pequeno-burgueses. O narrador, que pára para contemplar, no presente e no passado, tantos pequenos nadas, não é fiável. E, pior, é amiúde extremamente piroso, beneficiando em muito do efeito «órfão a escrever o seu amor filial». Talvez por isso o livro mereça tanto apreço por um certo público, sensibilizado pela «homenagem» e assim sedado para aferir que ganho deu à literatura este aglomerado de lugares comuns.