A review by celestecorrea
A Idade da Inocência by Edith Wharton

4.0

[editado em 4.3.2024 para revisão ortográfica]

A Idade da Inocência, The age of Innocence, é o nome de uma pintura do final do século XVIII do artista britânico Sir Joshua Reynolds https://www.tate.org.uk/art/artworks/reynolds-the-age-of-innocence-n00307
E foi esse o título que Edith Wharton ironicamente elegeu para retratar a alta sociedade de Nova Iorque no último terço do século XIX, uma tribo que vivia num mundo fechado alheio a mudanças, numa hipocrisia e superficialidade tacitamente aceites pelos seus membros, que receavam mais o escândalo do que a doença; de acordo com o velho código juntavam-se numa corrida tribal elegante, total e cordialmente cúmplice, resolutamente determinados a fingir uns aos outros que de nada suspeitavam numa dissimulação mútua.
Newland Archer, advogado e de família tradicional, que, apesar de se considerar de ideias cosmopolitas agradece aos céus ser nova-iorquino e estar prestes a casar com alguém da sua espécie, May Welland:
«Archer tinha voltado a todas as suas ideias herdadas sobre o casamento. Dava menos trabalho aceitar a tradição (...) Não valia a pena tentar emancipar uma esposa que não tinha a menor noção de que não era livre.»

Mas eis que aparece a condessa Ellen Olenska, prima da sua noiva, e separada de um conde europeu, uma mulher diferente de todas, por quem Archer se apaixona.
Ellen habituada à Europa de costumes liberais tinha a generosidade negligente e a extravagância das pessoas habituadas a grandes fortunas e indiferentes ao dinheiro e podia passar sem muitas coisas que a família considerava indispensáveis, torna-se um alvo a abater, ou seja, ser eliminada da tribo.
Inteligentemente, Edith Wharton usa a perspectiva de Archer e a de um narrador opinativo permitindo assim uma crítica feroz a essa sociedade, nomeadamente ao papel da mulher visto como inferior.

Conseguirá Archer rebelar-se contra o dever que lhe exigiam ou não passará de um vencido da vida incapaz de contrariar o seu destino? Inocentes – uso a palavra num tom irónico – daqueles que pensam que as suas verdades têm um valor mais importante do que as do mundo fora da sua tribo.

«Agora ao rever o passado, viu em que sulco profundo tinha mergulhado. O pior de cumprir um dever é que aparentemente não dava para fazer mais nada. Pelo menos era a opinião que os homens da sua geração tinham. As divisões constantes entre o certo e o errado, honesto e desonesto, o respeitável e o reverso, tinham deixado pouco espaço para o imprevisível.»

« - Mas eu só tenho 57 anos – e depois afastou-se. Para esses sonhos de Verão era demasiado tarde, mas não para uma colheita calma de amizade, de camaradagem na tranquilidade serena da proximidade.»

Em minha opinião, a autora tem algumas semelhanças com Henry James, mas a língua mais afiada.