A review by andrepithon
Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres by Clarice Lispector

2.0

2.5

Vamos começar o ano pecando, certo?

O livro dos prazeres começa numa vírgula, em um fluxo de pensamento em que a protagonista Lori gira e gira em seus anseios pelo amor e atenção de Ulisses, em uma tão óbvia que chega e ser escancarada alusão ao clássico modernista de James Joyce. Com a tese já escancarada nas primeiras, é tão óbvio o que podemos esperar de Lispector aqui, um mergulho mental em busca de resposta, mas encontrando só perguntas.

E justo, não sou o maior fã de fluxo de consciência, em doses pequenas me faz bem, como no magnífico ucraniano Vita Nostra, mas quando domina a narrativa considero maçante. A escrita de Lispector é única, e adoro muitos de seus contos, mas aqui a narrativa não sei do lugar, presa em um labirinto tautológico do que significa amar, do que significa ser, e como abrir mão da humanidade para encontrar Deus, ou talvez, mais apropriadamente, tornar-se Deus. Tem passagens engraçadinhas. Uma coisa aqui ou ali faz você balançar a cabeça e murmurar "uhum". Nada muito além disso.

Circular, repetitivo, denso mas sem muita coisa para revelar, uma ode ao amor e ao entregar-se que revela-se relativamente óbvia, e que é sempre divertido distorcer o amor para ele aparecer mais poético do que realmente é, mas as vezes tem que tomar cuidado pra não ir longe demais.

Quase dei 2.25* pra esse livro por achar que é consideravelmente melhor que meus 2*, mas não realmente bom o bastante quanto muitas coisas que marquei com 2.5*. Fui contra a ideia, pois isso me daria liberdade para começar a dar notas mais e mais fragmentadas no futuro e nenhum de vocês merece isso. Diferentemente de Clarice, acho as vezes bom maneirar um tantinho no rebuscamento.