A review by alexiasophii
O Sagrado e o Profano by Mircea Eliade

challenging reflective slow-paced

2.25

Reading for "Anthropology of Religions" class at my uni course. 
 
Sinto que a minha análise do livro deve começar pelo facto de que este autor é, por si só, problemático. Eliade é conhecido por ser eurocêntrico, racista e fascista devido às suas ligações com movimentos fascistas romenos (e com a "Iron Guard"), algo que se reflete na sua escrita, inclusive neste livro. O livro é bastante discriminatório ao longo de todo o discurso, classificando várias religiões como sendo "primitivas" (ao contrário do Cristianismo, que não é primitivo). Aliás, uma comparação que demonstra a tendência "racista" do autor é que quando fala de religiões de origem europeia (romana, grega, etc.), utiliza o termo "religião arcaica", mas quando se refere a uma religião da Ásia, Américas ou África, utiliza o termo "religiões primitivas".

O livro é também bastante eurocêntrico, na medida em que o ponto de partida de Eliade é a própria visão "moderna, europeia". Apesar do autor defender, no início do capítulo IV, que o historiador das religiões deve ter uma perspetiva mais ampla e familiarizar-se com mitologias e folclores locais, nem duas páginas depois, caracteriza comportamentos religiosos de tribos nómadas como "aberrantes" e "excêntricos". Estes juízos de valor estão espalhados por todo o livro e demonstram o viés do autor.

Adicionalmente, o livro é bastante repetitivo. Apesar de só ter cerca de 100 páginas, o autor repete muito os seus pontos de vista, utilizando exemplos excessivos e, a meu ver, fazendo algumas comparações desnecessárias. Apesar de existirem pontos em comum, não considero apropriado efetuar uma comparação entre práticas africanas e práticas nativo-americanas, quando as mesmas possuem uma distância geográfica tão grande. Pelo menos, da forma como o autor as faz (generalizando-as e atribuindo a elas todas o mesmo significado e propósito). Creio que o facto de que existem aspetos religiosos em comum entre tribos geograficamente afastadas é um tópico bastante interessante, mas não deve ser abordado da forma como o autor aborda.

No geral, é um livro que não me acrescentou nada aos conhecimentos que já tinha, e tenho as minhas dúvidas de que faça sequer sentido, em 2023, estar incluído na bibliografia base de uma unidade curricular universitária. 

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