A review by joanappgrace
Robinson Crusoe by Daniel Defoe

3.0

A obra Robinson Crusoe de Daniel Dafoe é considerado o primeiro romance inglês, publicado em 1719. Ao longo do livro temos um narrador autodiegético, o próprio Crusoe, que nos relata uma história de sobrevivência. É, sem dúvida, uma metáfora perfeita da condição humana o que torna o tema base do livro intemporal. Este romance dotado de uma dimensão individualista, não só relata a história de um homem que sobrevive na ausência de uma sociedade, como também relata a experiência emocional e psíquica do protagonista.
Por um lado, o próprio romance serve como documento de uma época. Ilustra a sociedade inglesa, as trocas comerciais, culturais e valores do século XVIII. Também, com as datas minuciosas, descrições pormenorizadas o livro apresenta uma dimensão realista sendo um perfeito exemplo de uma narrativa de viagem verosímil (remetendo-nos por vezes até para um determinado Modernismo). O desejo de fuga e independência do protagonista, que vê nas viagens o seu meio de emancipação. Os apelos do Pai de Robinson ao "middle-state", mostra-nos enquanto leitores que a burguesia era a classe social mais desejada. Para além disso, o livro representa o valor do "self-made man". O romance ilustra a ideia vigente inglesa de que através do trabalho o Homem é capaz de criar o seu pequeno império, mesmo que nas condições mais inóspitas. Robinson Crusoe serve então como figura mítica dando ao romance um cariz reflexivo da sociedade inglesa.
Por outro lado e, a meu ver o que torna o livro mais interessante, Robinson Crusoe relata o crescimento individual, espiritual e psíquico do protagonista. O naufrágio na ilha é o episódio que mais contribui para a evolução da personagem. Se numa primeira parte é visível a evolução prática e racional do personagem, que aos poucos vai aprendendo a sobreviver, a geografia da ilha e a adaptar-se fisicamente ao novo contexto; numa segunda parte temos a evolução individual e espiritual de Crusoe. É ao encontrar a Bíblia, nos destroços da embarcação, que Crusoe atinge um equilíbrio entre a parte emocional e racional. Através do diálogo directo com Deus (sinal da crença presbiteriana) que o protagonista encontra conforto, clareza e tranquilidade. Ao conectar-se com Deus a sua perspectiva altera-se deixando a catástrofe de lado e adoptando uma visão mais optimista.
Concluindo, Robinson Crusoe é muito mais do que um romance que relata a história de um náufrago e da sua sobrevivência física. A ilha é o mecanismo que faz o protagonista crescer mentalmente, fisicamente e espiritualmente. Robinson Crusoe aprende a capacidade de resiliência e de enfrentar os seus medos, problemas e receios.