A review by ozielbispo
O Ouriço e a Raposa: Ensaio sobre a visão histórica de Tolstói by Isaiah Berlin

5.0

O pensador britânico, de origem judaica russa Isaiah Berlin (1909-1997), baseando-se em uma frase do poeta grego Arquílico de Paros: " A raposa sabe muita coisa, mas o ouriço sabe uma coisa importante" classifica grandes escritores e pensadores do passado baseado em suas personalidades e comportamentos em raposa ou ouriço.
Para Isaiah Berlin as raposas são pessoas com uma mente focada nos assuntos globais, tem uma visão mais ampla do mundo, sabem um pouquinho de tudo.
As raposas também têm uma perspectiva centrífuga e pluralista da realidade, tem mil ardis, adapta-se e por vezes hesita e volta atrás.Shakespeare, Aristóteles, Montaigne e o próprio Isaiah Berlin fazem parte desta família.


Já os ouriços são pessoas mais ligadas à comunidade local a qual eles conhecem como a palmas de suas mãos, têm uma visão unitária e coerente. São mais inflexível, focado num objetivo. Dante, Platão e Hegel fazem parte deste grupo.



Isaiah Berlin passa a maior parte do livro falando sobre Tolstói, que escapa a definição entre ouriço e raposa. Enquanto seus talentos são de raposa, suas crenças são de ouriços. Tolstoi, na opinião de Berlin, era uma raposa que durante toda a vida procurou, sem sucesso, ser um ouriço.

O ensaio também compara as semelhanças entre Tolstói e Maistre, que apesar das diferenças em coisas superficiais são semelhantes em várias áreas do pensamento.
O segredo, e a tragédia, de Tolstoi, diz Berlin, é que ele era "por natureza uma raposa, mas acreditava ser um ouriço". Em sua visão da história, Tolstói era primeiro uma raposa, combatendo as visões dos ouriços de que a história pode ser reduzida a uma mera ciência, de alguns indivíduos podem, pelo uso dos seus próprios recursos, influenciar o curso da história. A glória dos romances de Tolstoi reside precisamente em sua sensibilidade quase sobre-humana à multiplicidade das coisas, sua capacidade de registrar a sensação individual e o tom das pessoas, lugares e situações em sua objetividade concreta.

A parte ouriço de Tolstói é acreditar que a massa de camponeses não corrompidos da Rússia são mais importantes, em termos históricos, do que qualquer grande líder, e também, particularmente durante seus últimos anos, a busca agonizante por uma visão unificada interna com a qual seu apetite de raposa por multiplicidade repousasse em paz.
Berlin também fala sobre o livro "Guerra e paz", onde Tolstói parece querer nos demonstrar que a compreensão humana nunca pode compreender a história, uma vez que o processo histórico envolve uma infinidade de causas que estão além do nosso alcance. Assim, os grandes heróis que emergem no romance são Kutuzov, o general idoso que como personificação do solo russo triunfa sobre a esperteza intelectual dos generais estrangeiros, e o camponês Karataev que tem uma sabedoria humana muito mais profunda do que o intelectual de Petersburgo Pedro. De fato, "Guerra e Paz" é um dos ataques mais formidáveis contra o o racionalismo já escrito.

Este livro é maravilhoso. É um dos melhores livros de não ficção já escrito!