A review by umbrellatrees
Livro do Desassossego by Fernando Pessoa

3.0

Enfim.

Não sei se o nome desse livro é mais propositado pelo desassossego do autor ou por aquele causado em quem o lê. Que Fernando Pessoa é permeado de pessimismos, tédios, vazios, todos já sabemos; mas essa leitura tem momentos tão apáticos, tão introspectivos e removidos de qualquer calor social, que me fugia completamento a filosofia ou reflexão e restava apenas o fardo de viver. Boa parte de todos os escritos é essa repetição de temas, o que me parece ter menos apelo do que sua obra poética. Talvez se esse livro fosse editado e tivesse menos páginas, a mensagem teria sido passada de forma menos enfadonha; sendo como é, a sensação de deja vu temático é constante.

No fim das contas, Pessoa continua impressionando mais em verso do que em prosa - ainda que o verso seja um dos livres e extensos de Álvaro de Campos. Vários textos do Livro do Desassossego são ecos de poemas outros, esses últimos, bem mais brilhantes:

208. "Mas não sou mais do que isso, não quero ser mais do que isso, não posso ser mais do que isso."
213. "Quantos sou? Quem é eu? O que é esse intervalo que há entre mim e mim?"
337. "O que tenho sobretudo é cansaço."