A review by rbonjour
As Portas do Paraíso by Jerzy Andrzejewski

5.0

"As portas do Paraíso" foram escritas, segundo o autor, "num só fôlego" e num só fôlego o li, em parte hipnotizada pelo ritmo da escrita, que se prolonga numa só linha infinita, retorcendo-se em ciclos de repetições e cenários fotográficos, em parte pela história magnetizante que se vai (des)construíndo à medida que se levanta o véu e vamos penetrando na mente de cada uma das personagens.

É através de monólogos que cada uma delas vai partilhando os seus sentimentos e os verdadeiros motivos porque se juntaram à cruzada que parte a caminho de Jerusalém, construíndo, à medida que avançamos nas páginas, um mundo onde reina a dicotomia dos valores católicos - o bem e o mal, a verdade e a mentira, o certo e o errado. Estes valores são, no entanto, postos em causa: a verdade que é contada com más intensões, o bem que é feito pelos motivos errados, o mal que surge de forma sincera e inata.

Junte-se a isto uma escrita igualmente dicotómica e temos os ingredientes para um livro perfeito. É que se o estilo de Jerzy Andrzejewski é de um lirismo belíssimo, oferecendo-nos descrições de paisagens muito ricas e extenuantes, justapõe-lhes cenários muito negros, que se vão tornando cada vez mais obscuros à medida que a leitura avança.

Tudo isso nos leva a um questionar desses mesmos valores cristãos e, consequentemente, toda a missão destas crianças-cruzado, assim como a própria religião: "não sei se cego pela fé não sabia ver o mal em meu redor ou se era em mim que eu carregava o mal querendo simplesmente adormecê-lo através da fé".