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Madame Bovary by Gustave Flaubert
4.0

Não percebo o julgamento em praça publica de Emma Bovary, pensava que deveria ser uma Lucrécia Borgia francesa, mas o que encontrei foi uma jovem a levar uma vida aborrecida. Sim, ela é egoísta, egocêntrica, mimada, queixinhas e como mãe deixa muito a desejar, mas como não ser?
Uma jovem que cresceu a ler romances, a sonhar com emoções que ela não percebe, acaba por casar com um médico, não por amor mas por convenção da época, porque esse é o seu papel, casar e procriar. Encontramos Emma a levar uma vida pacata e aborrecida como esposa de médico de aldeia, inserida numa pequena burguesia tacanha e oportunista, Emma é uma mulher insatisfeita por natureza, é a imagem da música de António Variações, "estou bem aonde não estou, porque eu só quero ir aonde não vou" levando-a por caminhos que só lhe trarão dissabores.
Sempre pensei que Emma teria tido muitos amantes mas afinal foram dois e pela minha perspectiva, esses homens aproveitaram-se da sua fragilidade e insatisfação, usaram-na enquanto lhes interessou, depois de passar a paixão ela é deixada sem dó, alias foi o Rodolphe quem não a largou até a conquistar. Não acredito que Emma tenha amado esses homens, foi mais pela procura de emoções fortes provocadas pelo segredo e clandistinidade que a levaram ao adultério.
Charles foi o único homem que a amou, um homem um pouco apagado, sem ambição e paixão, que julgou que ama-la e cuidar dela seria o suficiente para ela, passando ao lado do que acontecia na sua casa e nas suas contas.
Adorei a crítica feita por Flaubert á pequena burguesia aqui representada na aldeia de Yonville, oportunistas a viver da desgraça dos vizinhos, cínicos e desonestos (M. Lheureux vem-me à mente), se Emma se desgraçou podemos afirmar que teve os empurrões certos pelos ilustres de Yonville.
Se há algo que condeno em Emma foi depois de ter desgraçado a sua reputação e de ter levado a sua família á falência, foi não ter tido coragem para enfrentar as consequências, decidiu desaparecer, deixando a quem ficou para trás, a resolução das suas más decisões.
De quem tenho mesmo pena foi da filha, Berthe, que ficou a viver uma vida dura por causa de pais egocêntricos. Além da irritação que senti pelas recompensas recebidas por certas personalidades de Yonville.