A review by jiangslore
Sobre a terra somos belos por um instante by Ocean Vuong

challenging dark emotional hopeful inspiring reflective sad tense medium-paced
  • Plot- or character-driven? Character
  • Strong character development? It's complicated
  • Loveable characters? It's complicated
  • Diverse cast of characters? Yes
  • Flaws of characters a main focus? Yes

5.0

[5/5]

“Sobre a terra somos belos por um instante” é um daqueles livros que precisam de tempo para serem absorvidos. E é um daqueles que, mesmo quando são absorvidos, deixam muito pouco a dizer — como eu poderia ter a pretensão de acrescentar algo substancial quando o autor já expressou tão delicada e profundamente as temáticas da obra? Mas acredito que vale a pena apontar algumas das qualidades do livro, mesmo que eu não faça jus à beleza dele, só para tentar convencer alguém a realizar a leitura.

Este livro é tão visceral e real que eu tive que procurar informações sobre ele mais de uma vez para realmente me convencer de que era uma obra de ficção. Claro, o que é narrado no livro tem relação com fatos históricos, em especial, com a Guerra do Vietnã. Com certeza muitas mulheres passaram por coisas parecidas com o que Lan passou, e a dificuldade de Rose de entender sua própria identidade (e, posteriormente, a idade de seu filho) é muito realista, também. As próprias experiências do Cachorrinho (sim, é um humano, não, não entrarei em detalhes sobre por que ele tem esse nome — descubra lendo), filho de Rose e narrador, são realistas, também. Mas o que traz o nível extra de realismo de “Sobre a terra somos belos por um instante” é a complexidade na forma que sentimentos são narrados. Nada, nenhuma situação encontrada no livro, é simples. Então não tem como o que as pessoas nelas envolvidas sentem ser simples — e Ocean Vuong captura isso maravilhosamente.

O livro é um romance epistolar, ou seja, narrado por meio de cartas. As cartas são escritas por Cachorrinho e destinadas para a sua mãe — e isso já inicia de uma forma incrível a profundidade do livro, pois, em uma tentativa desesperada de se aproximar de sua mãe, o filho escreve para ela em um idioma que ela não entende. Não há uma separação definida nas cartas, ou seja, o livro não segue uma estrutura em que cada capítulo é uma carta com início, meio e fim. Além disso, os acontecimentos não são narrados de modo linear, pois a conexão entre eles é temática e não cronológica. Claro, isso pode tornar o livro confuso para algumas pessoas, e com certeza significa que deve haver certo nível de concentração na leitura, mas vale a pena (e a maioria das coisas que valem a pena dão trabalho, na minha opinião).

Outra coisa que torna “Sobre a terra somos belos por um instante” tão interessante é algo que, sinceramente, já está evidente só pelo título: este livro é sobre viver. É sobre como, apesar de todos os sofrimentos, o ser humano ainda busca o que é belo. E, claro, há certos sofrimentos e certas marcas que são especialmente relevantes em certos grupos, e, consequentemente, são relevantes para certas famílias. Mas esse sofrimento não define ninguém, e isso é demonstrado pelo fato de que os personagens, apesar de tudo, querem estar vivos. Sim, querem sobreviver. Mas não é só isso. 

E, sinceramente, a forma que “Sobre a terra somos belos por um instante” aborda tais questões reflete o efeito que o livro tem. Eu me senti tão destruída depois de terminá-lo, mas tão cheia de esperança. E acho que é assim que Cachorrinho se sente, também. Nada vai apagar o sofrimento dele ou da família dele. Ele tem que viver com isso, mas, principalmente, ele tem que viver. Ser humano é isso, e é tão insignificante, tão patético, mas tão belo ser assim. 

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