A review by ritaslilnook
The House in the Cerulean Sea by TJ Klune

4.0

Que livro bom, sem maldade, apenas puro amor.

Linus Baker é o protagonista desta história, o elo entre o comum e tudo o que é especial.

Linus vive uma vida rotineira, sem surpresas, mas com alguns azares. Aos quarenta anos, trabalha como inspetor para um departamento responsável pelos cuidados da juventude mágica (tradução livre de Department in Charge of Magical Youths - DICOMY). Vive com a sua própria solidão, ainda que acompanhado por uma gata que resgatou e pelos seus discos de vinil, numa casa acolhedora e humilde. Linus experiencia muitos dias cinzentos, tanto literal como metaforicamente, e o trabalho que executa não os facilita.

O trabalho de Linus foca-se em visitar e investigar orfanatos que acolhem crianças com caraterísticas mágicas, especiais. Após a investigação, cabe-lhe escrever um relatório sobre a sua experiência e sugerir se o orfanato está apto para continuar a acolher crianças ou se terá que ser encerrado. Linus é um profissional muito diligente, com uma capacidade emocional de se manter distante de quem investiga. Mas… tudo o que toma como certo é posto à prova quando lhe entregam a investigação de um orfanato diferente - um orfanato para crianças mágicas, mas consideradas perigosas, situado numa ilha no meio do mar.

Arthur é o tutor destas crianças; um homem com os seus segredos, mas com uma bondade do tamanho do mundo. É com amor e dedicação que acolhe estas crianças e as toma como suas. Neste orfanato há algo especial, maravilhoso, prodigioso até… Todas as crianças que ali moram têm histórias assombrosas e tristes, mas a dor amainou quando conheceram Arthur. É no meio do mar, na pequena ilha que têm só para si, que, pela primeira vez, se sentiram protegidos - em casa.

Tudo o que Linus acreditava ser certo é posto em causa ao conhecer esta pequena família de seres peculiares e de forte capacidade emocional.

A Casa no Mar Cerúleo entregou-me uma leitura muito especial e preencheu-me o coração em espaços que nunca havia considerado vazios. É um livro animado, trabalhado de forma meticulosa e dinâmica, onde os personagens carregam a história e a tornam sua de uma maneira muito orgânica. Estamos a falar de crianças especiais, muito capazes para a sua idade, que se aceitam a si sem necessidade de ser aceites.

O contraste entre a monotonia da vida de Linus e o arco-íris que rodeia estas crianças torna a leitura muito introspetiva. Conseguimos perceber que muitas inseguranças e defeitos que apontamos a nós próprios, são muitas vezes as caraterísticas que nos distinguem, que nos tornam também especiais.

Num mundo assolado de preconceito, este livro põe em perspetiva muitas questões que colocamos nos dias que correm. A forma como vemos os outros e somos vistos, como categorizamos certos comportamentos e feitios e o quão fácil é cairmos num buraco que nos vai levar ao preconceito, seja ele inconsciente ou não. Mas a mensagem de esperança que estas crianças nos passam é infinita… Elas conhecem o ódio, o pudor, mas não deixam de acreditar que as pessoas são boas no mais íntimo do seu ser.

Confesso que desejar por sequelas não é algo que me aconteça muito, mas seguir a vida destes personagens, o seu desenvolvimento para adultos, é algo que me traria o desfecho que senti que ficou a faltar neste livro.

Esta é uma história que nos conta sobre a importância de nos amarmos, de sabermos que uma família não é feita de sangue, mas sim de companheirismo e compaixão - a família encontra-se, não se pré-define. Linus, Arthur e as crianças não podiam ser mais diferentes uns dos outros… Isto é, até considerarmos os seus desejos: sentirem-se amados, vistos, terem uma família… E é tão bonito ler como encontraram isso uns nos outros - um abrigo, um casulo, naquela que é a casa no mar cerúleo.