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A review by mathiaseichbaum
Robinson Crusoe by Daniel Defoe

3.0

O cerne de "Robinson Crusoe" é a questão da Providência. Para o personagem (e para Defoe, um presbiteriano), Deus age no mundo a partir da Providência, ou seja, não há necessariamente milagres visíveis, mas sim ações que levam os indivíduos à sua salvação. É muito interessante ver as nuances dessa ideia de predestinação e a importância de "ouvir" seus sinais nas doutrinas calvinistas. Ainda nas discussões teológicas, achei muito curiosa a visão de que os crimes dos povos não-cristãos americanos (canibalismo em especial) são vistos como crimes de cunho nacional. Portanto, não caberia aos homens julgá-los, mas sim a Deus. Este teria se ausentado da América exatamente pelo pecado desses homens contra a "luz" de Deus, mas, possivelmente, poderiam ser salvos. O ponto é: a Providência divina não é plenamente compreensível aos homens, mas ela faz sentido no final e pode trazer a salvação a quem a aceitar.

Robinson Crusoe também é, de forma igualmente importante, uma chamada e um elogio ao empreendimento, indústria e engenhosidade individuais. Crusoe, também a partir da aceitação da Providência, se torna, cada vez mais, um homem adaptável e engenhoso, que, seguindo a Providência, age para sua própria salvação. É, inclusive, nesse sentido, que Weber via nas ideias protestantes (calvinistas) uma raiz importante do capitalismo.

Por fim, o livro também exalta os valores do colonialismo como uma possibilidade importante para homens cristãos de ação, o que, para mim, deixa muito claro que se pode ver um Daniel Defoe dissidente presbiteriano, um mercador e um "patriota", mas que todos "eles" são absolutamente conectados.

No mais, o livro é muito divertido nas partes narrativas e é interessantíssimo, ainda que repetitivo, nas elocubrações sobre a Providência. As descrições sobre as invenções na ilha e os diversos acontecimentos ao longo dos anos são, por vezes, também divertidos e interessantes, mas, por outras, só muito chatos. Enfim, não foi uma leitura particularmente prazerosa, mas achei um livro legal de ler, bastante importante e que claramente desempenhou um papel considerável na formação do romance moderno.