A review by anacatnascimento
Incarceron by Catherine Fisher

3.0

Catherine Fisher surge com uma ideia que me chamou bastante à atenção: Incarceron é uma super prisão, um mundo dentro do mundo, que embora tenha sido idealizado como um paraíso, acaba por se tornar num verdadeiro inferno.

Este conceito interessou-me na medida em que me fez pensar em várias coisas. Primeiro, que a solução dos humanos para as maldades do mundo foi apenas “deitar fora” quem as praticava e cultivar apenas as partes positivas da sociedade - ou melhor, as partes que o rei considerava positivas.

Claro que isto colocava outro problema: e se o rei acabasse por ser um desses dissidentes?

E ainda havia outra coisa, que ao longo de todo o livro nunca deixou de estar assim a flutuar, nos arredores dos meus pensamentos sobre este livro: e a maldade que é intrínseca a alguns seres humanos? E não descrimino relativamente à origem, seja genética, ambiental, social ou outra coisa qualquer - a verdade é que ela existe. Fiquei a pensar que num mundo em que tudo fosse perfeito, talvez se criassem precisamente as condições ideais para ela se desenvolver. Não haveria equilíbrio.

Penso que foi por isso, para criar algum senso de que a balança estava mais ou menos ajustada, que a autora fez o falecido rei parar o Tempo e criar o Protocolo. Edron, era esse o seu nome, fez o seu reino estancar num momento que comparo ao século XIX, onde tudo era representação, cortesias, connections e muitos jogos políticos.

Esse é o contexto histórico de "Incarceron", que eu achei que nem sempre era claro ou bem explicado. A autora não nasceu para fazer boas descrições de coisa nenhuma, e isso era bastante óbvio depois das primeiras páginas. E que fique assente que não sou fã dos métodos de Eça, por exemplo, que demora 10 páginas para descrever uma fachada.

Contudo, há situações em "Incarceron" que deixam a desejar pela falta de pormenor. E outras, por pormenores a mais. Passo a explicar:

Catherine Fisher não só não é boa com descrições de cenas, lugares, situações, como também não desenhou bem os personagens principais, Claudia, Finn e Jared. Os dois primeiros são jovens que a narrativa nos indica ter pelo menos 17 ou 18 anos, mas que em tudo parecem agir como se tivessem 10. É difícil tirar deles um traço de personalidade até quase mesmo ao final do livro, coisa que, pessoalmente, não me agradou.

Já Jared, é mais velho, um Sapiente erudito, mas é fraco, medroso e assustado, e parece ter uma doença secreta que, adivinhe-se, não é explicada.

Dou a mão à palmatória, contudo, nas personagens de Keiro, Gilas e até do Governador: secundárias e, curiosamente, melhor estruturadas.

Relativamente à história em si, foi difícil de achar boas razões para continuar a ler, no início. Eventualmente, a coisa fica mais complexa e dá mais gosto.

Mas “Incarceron” é sempre um livro confuso, em certa medida - e não sei bem como explicar isto. Tive este feeling com o livro o tempo todo, uma mistura entre "wtf", "oh my gaaawd yes" e "wait, what". Por outras palavras, foi agridoce.

Li este livro em português, e vou recordar o nome de Mário Dias Correia como um tradutor muito competente que, se não fez mais, foi porque os diálogos que a autora lhe deixou não eram grande coisa.

É bastante claro que o livro tem continuação, "Sapphique", que vou sem dúvida ler. Fiquei curiosa com o destino do Governador, mais do que o de Finn ou Claudia.

Para terminar, uma confissão: a certa altura, não consegui deixar de equiparar Catherine Fisher ao meu grande amigo Brian Keaney, que conseguiu a proeza de estragar uma boa premissa literária numa trilogia (da qual ainda me falta ler o último volume - help!) sem pés nem cabeça.

Mas good for you, Cate. Deste a volta por cima e, embora muiiiiito longe do meu top e nunca me dando um momento verdadeiramente feliz em TODO o livro, criaste uma coisa que me fez passar algumas horas sem conseguir parar de virar a página.