A review by hadys
Não Me Abandone Jamais by Kazuo Ishiguro

dark emotional reflective sad tense slow-paced
  • Plot- or character-driven? Character
  • Strong character development? Yes
  • Loveable characters? No
  • Diverse cast of characters? No
  • Flaws of characters a main focus? Yes

4.0

"Não, Tommy. Não há nada de nada. A sua vida deve agora seguir o curso que foi estabelecido para ela."

Quando terminei a leitura me senti impotente. O que eu queria era gritar: façam alguma coisa, se rebelem! Queria abrir os olhos dos personagens para que eles pudessem ver o sistema falido em que viviam. Mas pensando bem... se tivesse sido escrito diferente, a história não teria mexido tanto comigo.

O que Kazuo Ishiguro faz neste livro é sombrio. Ele transmite uma sensação generaliza de impotência, frustração, desesperança e, principalmente, resignação de pessoas que cresceram condicionadas a um "propósito".

No início, somos apresentados a Kathy, que é ex aluna de Hailsham, um internato bucólico situado no interior da Inglaterra. O livro foi escrito do ponto de vista de Kathy e é uma releitura de suas memórias e experiências de vida em Hailsham e com seus amigos mais próximos, Tommy e Ruth.

Os três amigos são clone que foram criados e mantidos com o único propósito: colaborar com a ciência ao doar seus órgãos até "concluir". Suas vidas, seus sonhos e sentimentos não são levados em conta.

A leitura não apresenta nenhuma revelação chocante; desde do começo há aquela sensação de "sei no que isso vai dar". Mas é difícil aceitar, então, mesmo não tendo esperança, junto com Kathy, tentei reunir informações para dar sentido ao que está acontecendo. 

Para mim foi difícil processar. Eles eram complexos e HUMANOS, não apenas cópias! Mas os personagens deste livro não sabem muito sobre a distopia em que vivem, então não conseguem enxergar. Eles só aceitam o que são, o que farão e fim que levarão.

Fiquei pensando, e se isso fosse realidade? E se eu fosse a "normal", será que sentiria a mesma compaixão pelos doadores quando me coloquei na pele deles? E se fosse uma escolha entre a vida de alguém que eu amo e alguém que eu fui condicionada a ver só como um repositório de órgãos? E se situações parecidas com o que Ishiguro escreveu, estiverem acontecendo ao nosso redor? Será que não estamos completamente insensíveis às pessoas? 

Por isso que gosto de distopias, por mais que seja assustadoras, elas me ajudam a refletir sobre a minha própria existência e realidade.

O final do livro é um dos mais lindos que eu já li nos últimos tempos. Quase chorei.

"Não me abandone jamais", talvez, num resumo muito simplório, seja sobre: "ninguém deveria ter o direito de decidir quem é uma pessoa e quem não é". 


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