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ines_filipa_santos 's review for:

A Corrente by Filipa Amorim
3.75
adventurous dark emotional mysterious sad tense slow-paced
Plot or Character Driven: A mix
Strong character development: Yes
Loveable characters: Complicated
Diverse cast of characters: No
Flaws of characters a main focus: Yes

 A maior mentira em que este livro vos vai fazer acreditar é que Santa Cruz é, na maior parte do tempo, um sítio quente e soalheiro. Não é. 

Decidi ler este livro por três motivos: em primeiro, passo muito tempo em Santa Cruz, onde tenho uma casa de família. Em segundo, porque costumo gostar de Thrillers. E, em terceiro, porque tenho lido demasiado em inglês e sinto que está na hora de voltar a apoiar os autores nacionais, em especial os mais recentes e emergentes. 

Antes de mais e, independentemente de tudo o que disser depois, queria frisar que gostei bastante d’A Corrente e que não me arrependo de todo de o ter lido. É uma história com uma boa premissa, um bom mistério, e um elenco interessante de personagens. 

Para um primeiro livro, acho que a autora fez um excelente trabalho. A escrita, a nível gramatical, é boa, sendo também moderna e corrente o suficiente para ser de fácil percepção e leitura. 

Acho muito interessante o facto de ser um thriller mas, no entanto, ser explorado pela perspetiva das personagens que rodeiam o mistério, e não pela polícia ou um detetive/investigador, como vemos muitas vezes. Isto traz uma dimensão diferente ao livro que, compreensivelmente, pode não ser para toda a gente, mas dá mais camadas às personagens e às suas vivências. 

Adorei também o facto de poder reconhecer Santa Cruz no livro, ler sobre os sítios que eu própria visito com frequência. É uma sensação de identidade que não consigo ter em qualquer história. 

Há, no entanto, certas coisas de que me apercebi ao longo do livro, e das quais não sou tão fã. 

Achei-o um pouco repetitivo. Já li várias reviews a dizer que o livro poderia ter menos 100-200 páginas, o que em nada alteraria a sua história, e concordo. Várias ideias, situações e conceitos foram sendo repetidos ao longo do livro, sem motivo para tal. Dei por mim a saber o que iria acontecer a seguir (spoilers menores):
mais um segredo iria ser revelado, o que faria com que algumas personagens ficassem, obviamente e de forma algo hipócrita, chateadas. Outra personagem teria então um flashback. A polícia aparece para chatear e não fazer nada de útil.
Para além disso, percebo que a autora quisesse fazer o livro realista e baseado no dia a dia após a descoberta do cadáver de Francisco, mas esses detalhes e momentos não adicionam grande coisa à história, num livro que já é, por si só, longo o suficiente. 

Também acho que a escrita não precisava de ser tão explícita e violenta no que toca a determinados assuntos. A descrição sistemática de cenas que necessitam de trigger warnings e que, indesculpavelmente pela parte do livro, não existiram, cansou-me um bocado psicologicamente.
 
Algumas cenas talvez estejam também um pouco sensacionalistas. Adultos que falam de forma juvenil, descrições de lutas “à filme”. Inclusivamente, coisas que algumas personagens fizeram e que não tiveram consequência nenhuma a nível legal. 

Infelizmente, encontrei também alguns plot holes, que coloco no fim da análise, para não dar spoliers a quem não tenha lido. 

O final foi, na minha opinião, bastante conveniente. Sem dizer muito para quem queira ler, achei que a solução do mistério poderia ter sido concretizada de outra forma que não uma tão… fácil? Tanto para algumas personagens como narrativamente. Algo que deveria ter sido apenas um plot device, que levaria essas personagens ou o leitor à conclusão final, acabou por expor mais do que eu acho ser a quantidade certa. 

Finalmente, o livro perde 10 pontos na minha consideração pelas referências a Harry Potter que, por esta altura, já ninguém aguenta nem são apropriadas. 

De qualquer forma, isto são tudo pormenores que, sem dúvida, serão ultrapassados pela autora com tempo e com experiência. Quero frisar que, se escrevo o que escrevo, é porque quero ser honesta na minha apreciação, e porque acho plenamente que esta autora tem muito potencial para uma boa carreira. Tendo esta conseguido escrever A Corrente enquanto primeiro livro, fico curiosa para ler os próximos! 


Plot Holes (SPOILERS):
No início do livro, era Mariana que queria matar o assassino de Francisco, a meio já era Alexandre, por fim era Daniel (com os outros dois a dizerem-lhe para não o fazer); A personagem de Leonor Marques, de alguma forma, sabia informações, no momento em que estão a interrogar Rogério, que nenhuma outra personagem lhe disse; Alexandre diz ter tido um pesadelo sobre a situação da alcunha Patrick Bateman, o que não aconteceu (ou, se aconteceu, não passou para o leitor através da escrita).



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