A review by hangsangareader
Relatório Minoritário by Philip K. Dick

adventurous challenging informative mysterious reflective tense fast-paced
  • Plot- or character-driven? A mix
  • Strong character development? Yes
  • Loveable characters? No
  • Diverse cast of characters? Yes
  • Flaws of characters a main focus? No

5.0

Passei numa Bertrand e vi este livrinho e decidi ler. Tive uma aula sobre Philip K. Dick e nunca tinha lido, apenas visto algumas adaptações, como é o caso do Relatório Minoritário. Se viram o filme, ficam a saber que tem algumas diferenças em relação ao original. (Eu gostei mais do final do filme )

No livro seguimos o Comissário e criador do Pré- Crime. Para quem nunca leu ou viu o filme - sim, pré-crime, onde és preso antes de cometeres o crime. (Está o vosso cérebro a trabalhar para entender o conceito? Então não estão a prender inocentes? Pois.) O Comissário, Anderton, é visitado por um jovem assistente, Witwer, que o irá substituir.

A história começa com um Anderton defensivo por sentir na pele que está a ficar velho e a ser trocado por uma versão mais jovem e vigorosa de si mesmo. O seu desprezo por Witwer vai influenciar um pouco a sua mente paranóica. Quando um papel com o seu nome como futuro assassino lhe cai nas mão a história vai-se desenrolando numa espiral de paranóia e confusão que nos deixa a querer ler mais para saber: como acabará e qual é a verdade. Anderton até da esposa desconfia, mas à medida que se lê, percebe-se que nada é óbvio nem como Anderton assume.

Anderton é o nosso narrador; toda a história é contada da sua perspectiva e acabamos por ser levados pela sua paranóia e pensamentos - acabamos por pensar como ele e desconfiamos das mesmas personagens. Ele é um narrador não confiável (unreliable narrator). A sua visão é limitada ao que conhece e, como já referi algumas vezes, as suas desconfianças.

O que torna esta história interessante é a discussão do pré-crime e as contradições das personagens. Ora, condenar alguém antes de cometer um crime é condenar um inocente - algo que a nossa sociedade não aceita. Se pensarmos em Dick - um Americano - esta ideia ainda menos aceitável é! Na América não se condenam inocentes e todos são inocentes até que se prove o contrário. A história acaba por levar a ideia de segurança ao extremo - para se parar o crime de vez temos de prender até os inocentes. Não há espaço para o livre-arbítrio - quem tem o nome num papel de pré-crime nunca iria mudar de ideias (algo que o filme explora). É uma espécie de não se olhar aos meios para se atingir um fim.
O que mais me deixou confusa foi o facto das personagens criticarem a sociedade onde o pós-crime era punitivo e as pessoas acabavam em prisões, que é o que acontece com o pré-crime. Só que nesta realidade ninguém foi assaltado ou morto.
Os pré-cogs são tratados como animais e não como humanos que podem ajudar a prevenir crime. São ridicularizados por serem subdesenvolvidos mentalmente e apenas usados. Diferente do filme, estes pré-cogs não humanizados no final.

O final foi a única parte que me deixou decepcionada.   
Anderton parte mais amulher para um planeta de colónia como castigo por ter cometido o assassinato que desde o início tentou evitar. Mas o pré-crime continua a existir. Segue a forma de 1984, em que o final é a continuação do que havia antes, sem se destruir o sistema. Algo que me dá ânsias, claramente, pois não quereria viver nem em sociedades totalitárias, nem naquelas que prendem inocentes em nome das vítimas que nunca o foram.