A review by patriciasjs
E Tudo o Vento Levou, Vol. 1 by Maria Franco, Inês Duque Ribeiro, Margaret Mitchell

5.0

http://girlinchaiselongue.blogspot.pt/2013/01/opiniao-e-tudo-o-vento-levou_25.html

Nascida em 1900 em Atlanta, no estado de Geórgia, Margaret era filha de um advogado e de uma sufragista e toda a vida ouviu histórias sobre a Guerra de Secessão, quer de parentes, quer de veteranos que haviam lutado do lado da Confederação, histórias que a obcecavam e faziam com que ainda criança, se levantasse a meio da noite para registar as suas ideias para peças e livros e que haviam de inspirar um dos livros mais grandiosos de sempre, E Tudo o Vento Levou, primeira e única obra da jovem sulista. Publicado em 1936, vendeu em quatro meses mais de um milhão de cópias e iria valer a Margaret um Pulitzer no ano seguinte e seria para sempre considerado um dos livros mais populares alguma vez escritos, estatuto para o qual o filme homónimo, realizado em 1939, terá contribuído.
Com o apoio de personalidades como F. Scott Fitzgerald e William Faulkner na realização do roteiro, E Tudo o Vento Levou imortalizou para sempre Vivien Leigh e Clark Gable na história do cinema. Um dos filmes mais nomeados de sempre, venceu onze óscares e o produtor David O. Selznick nunca se deve ter arrependido dos $50 000 que pagou para levar esta história para as telas de cinema.
Uns dizem que foi uma guerra pelos direitos civis, muitos sabem que foi a primeira guerra industrial e o momento que tornaria os Estados Unidos da América aquilo que eles são hoje. Uma guerra onde mais do que entes queridos e fortunas, se perdeu modos de vida, formas de pensar e se disse adeus à uma sociedade que não mais voltaria, a Guerra de Secessão foi um virar da página, um capítulo sanguinário e de derrotas, do qual apenas os mais fortes sobreviveram e que ainda faria correr muito sangue mesmo após o seu fim. Retrato de um dos lados dessa contenda, do lado derrotado, E Tudo o Vento Levou é a história do Sul, de uma sociedade, do algodão e de uma mulher, é o reviver da perda da serenidade, da morte atroz e da força da sobrevivência. Uma história familiar, do apego à terra, uma história sobre o amor em todas as suas vertentes e efeitos, esta é uma obra magistral que apaixonará e revoltará em grande escala a alma de qualquer leitor.
Narrado através de uma escrita pautada por paixão e força, este livro exige a nossa atenção e o nosso coração com total liberdade, levando-nos a amá-lo com tal intensidade que as suas palavras ficarão para sempre marcadas na nossa memória. Margaret deixou-nos um relato sublime, uma história cheia de poder e força de vontade, um livro que nos faz rir e chorar, que nos revolta contra as injustiças e a incompreensão, que nos faz orgulhar do espírito e da garra, que nos faz entender a profundidade da alma e do coração como poucos livros alguma vez fizeram. Senhora das suas palavras, ela descreve-nos a serenidade e a alegria de outrora, a dor e o sofrimento de uma guerra em que muitos lutaram de coração mas poucos que entenderam, do levantar dos corpos cansados e tristes para uma luta feroz pelo que foi e pelo que agora é. Fala-nos de honra e lealdade, de entreajuda e orgulho, de coragem e insensatez. Conta-nos uma história de amor intemporal, uma história que nos magoará e tocará, da paixão entre duas almas perdidas, duas almas gémeas que sempre se tocarão mas nunca compreenderão.
Com momentos históricos eximiamente relatados, E Tudo o Vento Levou devolve a vida ao Sul, relembra a dor e a perda, o sangue que manchou um país, o ódio que levou à morte de tantos, através de descrições tão ultrajantes quanto sublimes, que nos farão pensar, que nos prenderão de tal forma a leitura que perdemos o sentido de lugar e de tempo pois todo o nosso ser é transportado para as paisagens de terra vermelha onde a pureza do algodão esconde um encanto e uma profundidade inimagináveis. Do antes ao depois, vivemos a vida dos que se revoltam e dos que se conformam, dos que não baixam a cabeça e dos que veem mais além. Perseguimos sonhos e inimigos com a mesma intensidade, amámos e odiámos com todo o nosso ser, chorámos as perdas, rimos com as vitórias. A autora foi capaz de incutir tanta complexidade, tanta humanidade na sua história, que é difícil não sentirmos, não sermos arrebatados por tudo o que é o Sul, a sua calma, a sua força, a sua languidez, a sua profundidade.
Tal como a narrativa, este livro é feito de personagens sublimes, profundas, mestras em complexidade, verdadeiros espelhos da alma humana. Dos derrotados aos que não desistem, dos anjos aos pecadores, dos doces amores de infância à paixão atroz de uma alma gémea. Nunca casal nenhum foi e é tanto quanto Scarlett e Rhett. Nunca moça mais mesquinha e detestável foi tal heroína, tal exemplo de força feminina, tal amante da terra que a viu nascer. Nunca maior patife foi o exemplo mais perfeito do homem apaixonado, do homem que dá tudo, do homem que nunca desiste. Incompreendidos, orgulhosos e capazes de tudo, são eles que nos apaixonam, se eles que levam as nossas emoções ao rubro. Nunca, autora alguma, irá conseguir transpor para páginas, protagonista mais malandro, mais doce e mais apaixonado que Rhett Butler e poucas entenderam os erros do amor e do orgulho como Margaret faz neste livro.
Não há palavras suficientes para descrever o que este livro me fez sentir, o que ele é e porque o deviam ler. Dez anos depois de ter visto o filme, o meu preferido de sempre, nunca pensei que ia voltar a apaixonar-me por esta história mas foi exactamente o que aconteceu. É difícil, é sofredor e intenso, uma sensação de outro mundo quando um livro nos arrebata de tal forma como este me arrebatou a mim, tornando-se um dos meus preferidos de sempre. Um livro que merece voltar a ser editado, que merece ser lido por gerações, um livro que continua a ser tão grandioso como no dia em que foi escrito.