A review by ckrupiej
O Primeiro Amor by Ivan Turguéniev

4.0

"O meu pai era um homem ainda jovem e bonito, que se casara por interesse: ela era dez anos mais velha. A minha mãe tinha uma vida triste: sempre enervada, com ciúmes, zangada - mas nunca na presença do meu pai, tinha medo dele, daquela atitiude rigorosa, fria, alheada...
Não conheço ninguém mais esmeradamente tranquilo, seguro de si e autoritário do que o meu pai."

"Quando, mais tarde, me pus a refletir sobre o carácter do meu pai, cheguei à conclusão de que nem eu nem a vida familiar lhe interessavam; gostava de outras coisas e deleitava-se plenamente com elas. "Apanha o que puderes, mas não te deixes aprisionar; pertencer a si próprio - é essa toda a graça da vida", disse-me ele uma vez."

"- Aborreceste-te à minha espera? - perguntou, entre dentes.
- Um pouco. Onde foi que perdeste o chicote? - voltei a perguntar.
O meu pai olhou para mim de relance.
-Não o perdi... deitei-o fora. - Ficou pensativo, baixou a cabeça... e foi então que eu vi pela primeira vez, e muito provavelmente pela última, quanta ternura e quanto arrependimento os seus traços rigorosos podiam exprimir."

"Dois meses mais tarde entrei na universidade, e meio ano depois o meu pai faleceu (de apoplexia) em Petersburgo, para onde acabara de se mudar comigo e com a minha mãe. Alguns dias antes da sua morte recebera uma carta de Moscovo que o emocionou sobremaneira... Foi falar com a minha mãe, a pedir qualquer coisa e, como ouvi dizer, até chorou... ele, o meu pai!"