mathiaseichbaum 's review for:

A Morte de Ivan Ilitch by Leo Tolstoy
5.0

1ª Leitura (2017):

Resumo / Pensamentos:

A novela começa com alguns personagens descobrindo sobre a morte de Ivan Ilitch. Seus pensamentos são meramente práticos e cotidianos (conseguir o dinheiro, promoção no trabalho, etc.)

No velório prossegue-se isso - percebe-se esse desprezo dos vivos com os mortos. A morte é algo distante, que só existe para o outro e deve ser escondido e afastado de nossos pensamentos para conseguirmos continuar vivendo. É o que passa na cabeça de Ivânovitch.

Em seguida, passa-se a falar da vida de Ivan Ilitch. Ele era de uma família rica (burguês) e vai tendo cargos e ascendendo de posição, sempre fazendo tudo “da maneira como deve ser feito”.

Sua vida é profundamente sem graça, ele não tem personalidade, só vai levando as coisas. Mas se acha feliz. Tem muitas brigas com a mulher até que se muda para São Petersburgo, compra o apartamento, etc. e tem que ajeitar tudo. Vai ficando aos poucos mal-humorado de novo, mas não se deixa levar e continua feliz até a dor começar.

Os médicos vão analisando o que ele tem (um diz uma coisa, outro diz outra) e Ivan Ilitch vai ficando cada vez mais obcecado com a doença. Por vezes fica pensando que é passageira, por outras só nas funções do próprio corpo. Mas aos poucos, passa a pensar na morte em si.

A dor e a doença ME PARECEM vir no momento em que não há mais o que se fazer, em que a vida já foi sendo levada e levada e levada sem um fim específico, sem um sentido. Porque é o que acontece.

E ele fica obcecado e amedrontado com a perspectiva de morrer exatamente por isso: porque aí a vida dele perde todo o sentido. E ele começa a ter medo de morrer e, mais ainda, medo de não ter vivido a vida da maneira correta. É quando ele percebe e aceita que não que a morte sai de sua cabeça, ele sente compaixão e amor pela mulher e seus filhos, não querendo mais incomoda-los.

A luz que ele vê no final claramente tem um cunho religioso.

De qualquer forma, é uma reflexão sobre a morte na nossa sociedade - solitária - para fazer uma crítica à sociedade. Os valores são questionáveis - deve-se buscar sempre uma ascensão e fazer as coisas da maneira correta sem nunca saber o que de fato se deseja, o que é próprio daquele indivíduo. E Ivan Ilitch sempre fora assim - esse ser sem nenhuma personalidade própria. O momento da doença é o primeiro momento que é só dele. E ele tenta “arrastar” os outros para seu sofrimento, culpando-os, por exemplo, ficando com raiva.

Quando descobre-se que ele vai morrer, é expulso do mundo dos vivos, um mundo que despreza e teme profundamente a morte, que tenta afastar a perspectiva dela para não deixar a vida perder o sentido (que ela não tem no modo como eles a vivem).

2ª Leitura (2021):

Em uma sociedade onde a felicidade é sempre o que está por vir, onde a vida se constrói sempre na expectativa constante de um futuro individual melhor, a enfermidade de Ivan Ilitch é também uma doença social, a partir do momento em que ele começa a perder as esperanças. Para o mundo exterior, a vida, a saúde, é sempre viver e trabalhar com a esperança do futuro terreno. A doença impossibilita isso para Ivan Ilitch, o que o faz progressivamente perder suas esperanças, o que o faz perder quem ele é - ou acha que é. Esse esquecimento vem da solidão de Ivan Ilitch em sua doença, seu apartamento dos saudáveis, dos vivos. Pois os vivos temem e desprezam os mortos e os saudáveis que vivem na expectativa do próximo cargo detestam os moribundos sem capacidade para mais nada. Curiosamente, me lembrou um pouco "A Metamorfose" em alguns aspectos, esse isolamento do personagem principal.

A novela é claramente "educativa", ao possibilitar a Ivan Ilitch uma redenção, primeiramente a partir da figura de Guérassim, o simples camponês (seu servo) que o ajuda e acaba ensinando-o sem perceber. Aí Ivan Ilitch já aprende sobre a simplicidade da vida e tem uma semente para começar a rever a sua vida. A partir disso, uma redenção final, depois do desespero de ter, realmente, vivido a vida da maneira errada, a partir da percepção de que tudo de bom que ele passou foi no começo da vida - ou seja, que o progresso interno à sua existência na verdade é falso. É a luz que o toma, claramente de origem divina. O foco da vida, portanto, deve estar, na entrega a Deus. É o princípio educativo, que de forma alguma "estraga" a novela.

O fato é que, para Tolstói, a morte pode dar ou tirar o sentido da vida, dependendo de como são enxergados. Se a vida é vivida como uma eterna busca por um "algo mais" terreno, a perspectiva da morte destrói qualquer sentido da vida, à medida que a destrói. Se a vida é vivida a partir da dedicação a um "algo mais" divino, a morte confere ainda mais sentido à vida.