A review by andrepithon
O Evangelho Segundo Jesus Cristo by José Saramago

2.0

Faz muito tempo que um livro não se prova tão desafiador de ler para mim, o que está mostrado por esse absurdo quase um mês de tempo de leitura. Saramago escreve com passagens por vezes interessantes, mas extremamente longo, em parágrafos imensos, com uma falta de pontuação, uma óbvia escolha estilística, que se torna massante, ainda mais lado a lado com capítulos de até 50 páginas. Nada disso é um crime literário, mas vai contra meu gosto literário.

Em o Evangelho Segundo Jesus Cristo, Saramago, olha que surpreendente, conta a história de Jesus Cristo. Isso significa acompanhar a vida do messias mais popular de todos os tempos, distorcida levemente pela perspectiva do autor, mas não distorcida o bastante para ser particularmente interessante. Ele se afasta pontualmente da Bíblia, mas não o bastante.

Ainda assim, existem passagens excelentes. Quando Jesus tá no barquinho dele batendo um papo com Deus e o Diabo, perto da conclusão, é um capítulo excepcional, bem demonstrativo de como é esse Deus Católico, com o que ele se importa, e qual sua relação com seu filho. Tem trechos bons, é algo doloroso pro protagonista, e é ali onde Jesus quebra, onde ele percebe o porque tudo vem acontecendo daquele jeito, e porque continuará de igual forma após sua morte. Apenas um sacrifício em nome do poder divino, combustível para mais morte.

E por mais que essa ou outra passagem sejam interessantes, é um investimento que não se paga. O final é medíocre. Tem quase 200 páginas até Jesus nascer e crescer, o começo seguindo José é dolorosamente enfadonho. É engraçado pintar Maria como completamente submissa e meio sem personalidade, só para contrastá-la com Maria Magdalena posteriormente, mas é página demais para conteúdo de menos.

Uma crítica à religião tão abertamente é poderosa para a época, e não posso negar que não me atrai uma fanfic sobre Jesus e seus amigos, que é o que isso é, mas falta mudanças drásticas para elevar o livro, e seus melhores momentos são quando O Evangelho ousa se afastar da Bíblia. Em geral, é uma leitura cansativa, que por mais de 80% apenas caminha por trilhas conhecidas, e cujas contundentes críticas são enterradas por detrás dum oceano do mais entediante marasmo.