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theuniverseis42 's review for:
Mulher-Maravilha: Sementes da Guerra
by Leigh Bardugo
Como fazer de uma deusa a mais humana entre imortais?
A Mulher-Maravilha sempre foi uma das mais fascinantes super-heroínas, isso sem considerar que ela é possivelmente a maior de todos os tempos. Criada em 1940, em um contexto bem diferente até mesmo para os padrões modernos, ela sempre foi reconhecida como um símbolo da força da feminilidade. Inteligente, afetuosa, gentil, sem hesitação. Pronta sempre parar lutar em uma batalha, mas sempre desejando a paz. Como pegar uma personagem dessas e trazê-las para os tempos atuais, sem deixar de fazê-la ter a essência que é a chave de sua longevidade? Felizmente, Mulher-Maravilha: Sementes da Guerra possui a resposta.
Aqui, Diana ainda é a princesa da ilha mágica de Temíscera, filha da rainha Hipólita, e ela não é como as outras amazonas. Diferente de suas irmãs de combate, que morreram bravamente no mundo mortal e ganharam a chance de renascer como guerreiras, ela foi feita do barro pela rainha, com sua vida sendo soprada diretamente dos próprios deuses. Por isso, ainda que a respeitem, todas ali não a veem como realmente parte da ilha, sentimento que ela também compartilha. Em uma competição de corrida, Diana decide se colocar à prova e mostrar a todas que ela merece o lugar que ocupa, mas tudo muda quando, ao ver um grito em meio a destroços de um navio perto da costa da ilha, ela ignora sua razão e pula no mar para resgatar quem tiver precisando.
A pessoa quem salva é Alia Keralis, uma jovem negra que não apenas lutou conta o preconceito a vida toda, mas também contra as próprias inseguranças e estranhos eventos que a parecem perseguir. Não demora muito para descobrirem que Alia é uma Semente da Guerra, descendente direta de Helena de Troia, e com poderes sobrenaturais vindos de Nêmesis, a deusa da vingança. Mesmo sabendo que a jovem que salvou está destinada a trazer caos, morte e destruição para toda a Terra, ela não hesita em quebrar todas as regras de seu lar e decidir levar Alia até uma lendária fonte mágica, capaz de curar a maldição que a garota e sua família carregam fazem gerações.
A premissa épica, que homenageia muitas fases clássicas dos quadrinhos e também é fiel às primeiras origens da heroína, esconde um estudo fascinante sobre os papeis que as mulheres desejam exercer e aqueles que são impostos a elas. Tanto Diana quanto Alia nasceram com outros privilégios que outras não possuem, mas também as dificuldades que enfrentam e as abatem são intrínsecas a elas. É na jornada épica em que ambas embarcam que as vemos aceitarem quem são e também aquilo que as definem como pessoas. A amizade que forjam não apenas é belíssima, mas carrega um profundo significado sobre como nos momentos mais improváveis e assustadores, a união pode ser a chave para a vitória.
Este livro não é apenas subtexto, porém. Leigh Bardugo sabe que precisa entregar entretenimento, e aqui a autora o faz muito bem. As sequências de ação são empolgantes, e saltam das páginas como se estivessem prontas para serem adaptadas para as telas do cinema. Não apenas são narradas bem, dando noção total a quem lê, mas trazem muito da iconografia da Mulher-Maravilha (o Laço da Verdade e os braceletes de prata) de uma forma clássica, mas moderna. O uso de ameaças sobrenaturais saídas da mitologia grega é orgânico, além de adicionar um interessante contexto histórico. Além disso, Diana e Alia não estão sozinhas em sua jornada, e o elenco de coadjuvantes não apenas traz mais diversidade, tanto racial quanto LGBTQI+, mas também é onde o livro dedica tempo para desenvolver, o que as escolhas que a narrativa toma nas cem páginas finais tenham um tom mais maduro e urgente.
Infelizmente, não é uma história perfeita. O final acaba cedendo a algo também comum em filmes de super-herói, abusando de conveniências para justificar soluções rápidas. A reviravolta que o precede é boa mesmo não sendo surpreendente, funcionando por ter sido construída desde o começo da história. É triste, porém, que isso não tenha sido levado para o clímax da trama. Ainda assim, da coleção Lendas da DC, este é provavelmente o mais empolgante e bem construído. Sua conclusão pode ter ficado aquém do potencial, mas como um todo esta é uma leitura que vale a pena ser conferida, seja para quem já gosta da personagem ou quer ver uma faceta dela mais humana, mas igualmente forte.
"Não se entra em uma corrida para perder."
A Mulher-Maravilha sempre foi uma das mais fascinantes super-heroínas, isso sem considerar que ela é possivelmente a maior de todos os tempos. Criada em 1940, em um contexto bem diferente até mesmo para os padrões modernos, ela sempre foi reconhecida como um símbolo da força da feminilidade. Inteligente, afetuosa, gentil, sem hesitação. Pronta sempre parar lutar em uma batalha, mas sempre desejando a paz. Como pegar uma personagem dessas e trazê-las para os tempos atuais, sem deixar de fazê-la ter a essência que é a chave de sua longevidade? Felizmente, Mulher-Maravilha: Sementes da Guerra possui a resposta.
Aqui, Diana ainda é a princesa da ilha mágica de Temíscera, filha da rainha Hipólita, e ela não é como as outras amazonas. Diferente de suas irmãs de combate, que morreram bravamente no mundo mortal e ganharam a chance de renascer como guerreiras, ela foi feita do barro pela rainha, com sua vida sendo soprada diretamente dos próprios deuses. Por isso, ainda que a respeitem, todas ali não a veem como realmente parte da ilha, sentimento que ela também compartilha. Em uma competição de corrida, Diana decide se colocar à prova e mostrar a todas que ela merece o lugar que ocupa, mas tudo muda quando, ao ver um grito em meio a destroços de um navio perto da costa da ilha, ela ignora sua razão e pula no mar para resgatar quem tiver precisando.
A pessoa quem salva é Alia Keralis, uma jovem negra que não apenas lutou conta o preconceito a vida toda, mas também contra as próprias inseguranças e estranhos eventos que a parecem perseguir. Não demora muito para descobrirem que Alia é uma Semente da Guerra, descendente direta de Helena de Troia, e com poderes sobrenaturais vindos de Nêmesis, a deusa da vingança. Mesmo sabendo que a jovem que salvou está destinada a trazer caos, morte e destruição para toda a Terra, ela não hesita em quebrar todas as regras de seu lar e decidir levar Alia até uma lendária fonte mágica, capaz de curar a maldição que a garota e sua família carregam fazem gerações.
A premissa épica, que homenageia muitas fases clássicas dos quadrinhos e também é fiel às primeiras origens da heroína, esconde um estudo fascinante sobre os papeis que as mulheres desejam exercer e aqueles que são impostos a elas. Tanto Diana quanto Alia nasceram com outros privilégios que outras não possuem, mas também as dificuldades que enfrentam e as abatem são intrínsecas a elas. É na jornada épica em que ambas embarcam que as vemos aceitarem quem são e também aquilo que as definem como pessoas. A amizade que forjam não apenas é belíssima, mas carrega um profundo significado sobre como nos momentos mais improváveis e assustadores, a união pode ser a chave para a vitória.
Este livro não é apenas subtexto, porém. Leigh Bardugo sabe que precisa entregar entretenimento, e aqui a autora o faz muito bem. As sequências de ação são empolgantes, e saltam das páginas como se estivessem prontas para serem adaptadas para as telas do cinema. Não apenas são narradas bem, dando noção total a quem lê, mas trazem muito da iconografia da Mulher-Maravilha (o Laço da Verdade e os braceletes de prata) de uma forma clássica, mas moderna. O uso de ameaças sobrenaturais saídas da mitologia grega é orgânico, além de adicionar um interessante contexto histórico. Além disso, Diana e Alia não estão sozinhas em sua jornada, e o elenco de coadjuvantes não apenas traz mais diversidade, tanto racial quanto LGBTQI+, mas também é onde o livro dedica tempo para desenvolver, o que as escolhas que a narrativa toma nas cem páginas finais tenham um tom mais maduro e urgente.
Infelizmente, não é uma história perfeita. O final acaba cedendo a algo também comum em filmes de super-herói, abusando de conveniências para justificar soluções rápidas. A reviravolta que o precede é boa mesmo não sendo surpreendente, funcionando por ter sido construída desde o começo da história. É triste, porém, que isso não tenha sido levado para o clímax da trama. Ainda assim, da coleção Lendas da DC, este é provavelmente o mais empolgante e bem construído. Sua conclusão pode ter ficado aquém do potencial, mas como um todo esta é uma leitura que vale a pena ser conferida, seja para quem já gosta da personagem ou quer ver uma faceta dela mais humana, mas igualmente forte.